Os funcionários apontam gastos desnecessários, como o restauante giratório, hoje o FindesLab
Os quase 300 trabalhadores demitidos pelo Sistema Findes, que além da Federação das Indústrias do Espírito Santo inclui o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senai) e o Serviço Social da Indústria (Sesi), se organizam em grupos, que se comunicam online, para adotar medidas judiciais visando à reintegração no emprego. As demissões – 249 inicialmente – foram anunciadas na quarta-feira e prosseguiram nessa quinta (21), provocando um clima de tensão e revolta.
O Sindicato dos Empregados em Entidades Culturais e de Orientação Profissional (Senalba) anunciou na quinta, em áudio gravado por seu presidente, Wanderci Soares Neto, que o setor jurídico da entidade prepara uma ação civil pública, com a finalidade de reverter todas as demissões. “A gente está optando por esse tipo de ação por causa das novas regras das Leis Trabalhistas”, disse, e explicou: “As novas regras estabelecem valores de custas processuais para os sindicatos, que são menores nesse tipo de contestação”.
A argumentação a ser utilizada na ação será a ata da reunião entre representantes do Senai, Senalba e do Ministério Público do Trabalho (MPT), realizada recentemente, considerando que foi recusada a proposta de um acordo de demissão, por envolver, também, trabalhadores estáveis, muitos deles reintegrados em suas funções no processo contestatório às demissões ocorridas em 2018 e 2019.
Na sede da Findes, na Reta da Penha, o clima é assustador, “um vale de lágrimas”, conta uma das funcionárias, “com mais de 10 anos de casa”, atingidas pelo corte. “Foi um massacre”, explica outra, tachando de “ato criminoso” a decisão adotada pelo Conselho de representantes, liderada pelo presidente do Sistema, Léo de Castro, que deixa o cargo em julho desse ano. Ele será substituído por Christine Samorini, eleita em abril passado.
“Mandou todo mundo embora, para depois adotar a Medida Provisória (MP) de flexibilização do trabalho”, comenta um dos demitidos, apontando para a MP 927, inspirada em documento apresentado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), e discutida com um grupo de empresários bolsonaristas em encontro com o presidente, amplamente divulgado pela grande imprensa do país, em março e abril desse ano. Trabalhadores e seus representantes sindicais não foram ouvidos. Com a reação social à suspensão do pagamento dos salários dos empregados durante quatro meses, o governo recuou editando a MP 928, que, entretanto, não encerra a questão. A polêmica persistiu, forçando o governo a editar a outra MP, a 936/2020 no dia 1º de abril, que corta salário e suspende direitos dos trabalhadores.
Para justificar as demissões, o Sistema Findes anunciou uma perda de receita de R$ 51,4 milhões este ano, em função da MP 932, que reduziu em 50% os repasses para o Sistema S, incluindo o Serviço Social da Indústria (Sesi) e o Serviço de Aprendizagem Industrial (Senai), e também devido à queda de receitas de serviços.
Os funcionários contestam a argumentação e apontam para a “reforma gigantesca” em andamento na sede da entidade, na Reta da Penha, em Vitória, e os gastos com o que chamam de “Disco voador”, onde funciona o Findeslab, centro de tecnologia e inovação que funciona no topo do edifício, inaugurado em 2019, para onde foi projetado um restaurante giratório, em um projeto equivocado e polêmico, embargado judicialmente.
O restaurante giratório, com vista panorâmica, estava orçado inicialmente em cerca de R$ 8,4 milhões, como parte das obras de reforma e ampliação no prédio da Findes, na gestão do então presidente, Lucas Izoton, em 2011, passando por seu substituto, Marcos Guerra, quando foi embargado judicialmente, tendo a Findes que devolver recursos financeiros do Sesi e Senai empregados na obra. Já transformado em centro de tecnologia e inovação, foi inaugurado em setembro de 2019 pelo atual presidente, Léo de Castro, a um custo de R$ 26 milhões.
“O passivo trabalhista do Sistema só aumenta, no mesmo passo que a revolta das pessoas demitidas”, comenta um trabalhador que acabou de perder o emprego. “Desrespeitam até a lei, pois muitos demitidos estão em processo de reintegração e isso representa descumprimento de ordem judicial, é crime”, assevera, e completa a frase com a afirmação de que vai lutar na Justiça.