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Dono de restaurante natural que desmoronou em 2013 enfrenta ação de despejo

Foto: Roberto Junquilho
Desde que o restaurante natural Sol da Terra foi destruído pelo desmoronamento de parte do morro da rua Barão de Monjardim, Centro de Vitória, em maço de 2013, a vida do médico Marco Ortiz, o proprietário, nunca mais foi a mesma.
Nesta terça-feira (29), ele teve o que resta do imóvel onde reside com quatro filhos invadido por oficiais de justiça, advogados e policiais militares. Estavam ali para despejá-lo, compulsoriamente, por falta de pagamento de aluguel, prazo que foi alterado para o dia 7 de junho, deixando-o mais calmo.
“Tudo o que acontece na vida da gente tem um motivo”, filosofa Marco, sem conseguir esconder os dedos trêmulos cofiando a barba grisalha a descer-lhe pelo peito. Senta-se em uma cama transformada em sofá no pé de uma grande pedra, que serve de sustentação ao cômodo.
Até lá, Marco terá que arrumar outro endereço que possa abrigar não apenas a família, mas os quatro outros ocupantes do espaço: vistosos e inquietos Dálmatas a mover-se nervosamente com a presença de estranhos, que somente se acalmam ao ouvir o comando de Pedro, o mais velho dos filhos.
A advogada de Marco Ortiz, Sandra Ribeiro Venturim, afirma que a ação é ilegal e argumenta que o imóvel foi destruído pelo desmoronamento, fato que extingue o processo, que se arrasta desde 2005 e soma um débito de mais de R$ 300 mil. “Não se despeja pessoas”, diz, exaltada. 
Vitor Said Azevedo, o advogado da outra parte, rebate e afirma que já fez vários acordos e nenhum foi cumprido. Ele representa a dona do imóvel, Romélia Silva Castiglioni, e acompanhou os dois oficiais de Justiça e os policiais que foram para garantir a retirada do ocupante. 
Marco Ortiz, conhecido por ter sido um dos pioneiros em comercializar comida natural em Vitória, e pessoa com largo círculo de amizades, que mantem com seu jeito simples de ser, admite que tem que sair, mas insiste em mais tempo. Ativista cultural e ambiental, também participa de montagens de espetáculos teatrais.   
O que resta da casa está em ruínas: é um amontoado de mobiliário antigo, quebrado, com mato invadindo a escada onde três policiais garantem a ação de despejo, evitada por mais um acordo. 
“Agora é dia 7 de junho, não tem mais apelação”, informa um dos dois oficiais de Justiça, sob o olhar atento de um policial que pede para não ser fotografado e explica: “Estamos aqui só para garantir a ordem, mas vai dar tudo certo”.
Marcos afirma que vai para casa de amigos na Barra do Jucu, em Vila Velha, onde ficará temporariamente, enquanto vai tocando o Sol da Terra aberto no Hortomercado da Praia do Suá, inaugurado depois da destruição da casa original, onde ele reside. Na época, um forte movimento de solidariedade ajudou a reerguer o restaurante, que é referência na área.
Acordo fechado, o grupo da ação de despejo desce as escadas. Marco se levanta, atende o celular, informa que tem novo prazo, abraça os jornalistas – “Muito obrigado por terem vindo”, senta-se no sofá, cruza as pernas e, cofiando a barba, ouve o que a advogada tem a dizer. 

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