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‘É o momento de fortalecer a atenção primária com repasses financeiros’

Recomendação da epidemiologista Ethel Maciel é fundamentada na estratégia da OMS. ES registrou 59 mortes em 24h

Hélio Filho/Secom

“O momento é de fortalecer a atenção primária, fortalecer do ponto de vista dos repasses financeiros, para que novas equipes possam ser contratadas”. A recomendação da epidemiologista Ethel Maciel está fundamentada na estratégia estabelecida desde o início da pandemia de Covid-19 pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e direcionada aos poderes públicos, de testar em massa a população e isolar, efetivamente, os infectados. 

“Quando você testa, você precisa dar condições para as pessoas fazerem o isolamento”, afirma a cientista, ressaltando a necessidade do Estado prover condições para que o isolamento aconteça de fato, apoiando as famílias mais vulneráveis economicamente, que via de regra vivem em habitações que não possuem condições para que os doentes sejam isolados e cuidados como necessário. 


Professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e integrante do Núcleo Interinstitucional de Estudos Epidemiológicos (NIEE) – formado por pesquisadores da Ufes e do Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN) e que assessora tecnicamente a Sala de Situação de Emergência em Saúde Pública do governo do Estado para a Covid-19 – Ethel Maciel salienta que, na garantia do isolamento das pessoas positivadas, “a atenção primária é muito potente, porque os agentes de saúde da atenção primária “conhecem toda a população que está inscrita naquele território, já têm vínculo, têm uma relação de confiança estabelecida”.

As orientações da especialista trazem respostas para questões levantadas em coletiva na tarde desta segunda-feira (22) pelo secretário de Estado de Saúde, Nésio Fernandes, e o subsecretário estadual de Vigilância em Saúde, Luiz Carlos Reblin, quando os dois gestores alertaram para o cenário perigoso que se configura no Espírito Santo, com uma tendência preocupante de redução do percentual de isolamento social nos últimos dias, somado à alta velocidade de contaminação registrada na Grande Vitória, especialmente em Vila Velha e Cariacica, e ao elevado índice de transmissão (Rt) no interior do Estado, estimado em 2,1 com base nos dados da terceira fase do inquérito sorológico.

“Nós ainda não derrotamos a pandemia e qualquer sensação de segurança e estabilidade deve ser combatida. A pandemia está estabelecida e em franco crescimento no Espírito Santo”, afirmou Nésio. “Ainda permanecemos com sinal de alerta. Nós ainda permanecemos em uma situação perigosa da pandemia. Estudos publicados ontem [domingo, 21] apontam que a memória imune cai de maneira significativa após 90 dias em pacientes que já tiveram a doença”, reiterou, citando o agravante da falta de medicamentos que afeta todo o país e o percentual de 42% de óbito entre os pacientes internados em hospitais púbicos capixabas.

Sobre a possível adoção de medidas mais rígidas de distanciamento social, conhecidas como lockdown, Nésio disse que a matriz de risco adotada pelo governo do Estado para avaliar riscos e vulnerabilidades prevê medidas extremas de distanciamento sim, “na medida em que a pandemia passe a comprometer o sistema de saúde”.

Disse, porém, que “consolidar medidas extremas num contexto em que a sociedade não está convencida de que elas são necessárias, não é uma decisão simples do governo. Se não houver coesão social, se as pessoas não estiverem convencidas, não será um decreto do governador ou uma portaria da secretaria de saúde que irá mudar o curso da pandemia”.

“Nós estamos diante de uma doença nova, que ainda está sendo estudada. E até que exista um tratamento especifico e vacina, o distanciamento social num conjunto grande da sociedade, o diagnóstico médico clínico e o isolamento com todos os pacientes com sintomas respiratórios constituem as únicas estratégias capazes de romper a cadeia de transmissão”, reafirmou.

E é exatamente nesse sentido, pondera Ethel Maciel, que o governo do Estado precisa atuar na coordenação estadual do fortalecimento, nos municípios, da atenção básica, para a testagem da população e isolamento dos doentes. Essa atitude, que deveria ter sido adotada desde o início da pandemia, mesmo agora ainda pode fazer a diferença e salvar muitas vidas.

“O planejamento desse pacto interfederativo”, explica, deve envolver repasses financeiros e metas sobre número de testagem e de pessoas isoladas, formas de isolamento, parâmetros e indicadores de avaliação da evolução dos doentes. A avaliação com oxímetro é muito eficiente, afirma, para previsão sobre um possível agravamento do quadro e intervenção de forma mais precoce. “Todas essas ações que estão no âmbito do município precisam ser reforçadas e planejadas em conjunto. Esse é o momento pra começar a fazer isso”, pede.

Profissionais exaustos

Após mais de três meses da crise do coronavírus modificando o modo de vida de todas as pessoas, enfoca a epidemiologista, é preciso ter consciência de que “os profissionais de saúde estão exaustos. É um estresse muito grande. É um momento onde todos estão exaustos, por isso é um momento de muita preocupação, que exige uma cautela pra que a gente não perca a luta pra esse vírus”.

Ethel diz reconhecer que o Estado já viveu períodos mais propícios à adesão da população ao distanciamento social. “Nesse momento com muitas atividades reabertas, temos uma dificuldade um pouco maior de convencer as pessoas, o que exige dos gestores uma amplitude maior de ação do que poderia ter sido feito num momento anterior a essas aberturas”, lamenta.

Nésio argumenta que “as decisões que a gente toma como governo no enfrentamento da pandemia precisam ser decisões prudentes e cautelosas que não coloquem em risco o conjunto da população, da sociedade, das instituições, da economia” e que “o Espírito Santo permanecerá atualizando diariamente as suas avaliações, semanalmente seu mapa de risco, conclamando prefeitos e secretários e todos os atores envolvidos na linha de frente para garantir que as medidas anunciadas de fato aconteçam em cada município”.

Que nessa avaliação, o fortalecimento da atenção primária nos municípios seja considerada e implementada o mais rapidamente possível.

Painel Covid-19

O Painel Covid-19 desta segunda-feira (22) confirmou mais 59 mortes e 1.281 novos casos da doença no Espírito Santo, totalizando 1.387 e 36.147 até o momento, respectivamente. A taxa de letalidade média estadual está em 3,84%.

Confirmando as afirmações feitas por Nésio Fernandes e Reblin durante a coletiva, sobre a tendência de maior crescimento da pandemia em Vila Velha e Cariacica, e aparente estabilização na Serra e Vitória, o painel de hoje mostrou que Cariacica já tem a maior taxa de letalidade entre os quatro municípios mais populosos (4,98%), situação que durante meses foi vivenciada pelos moradores da Serra, hoje em 4,52%. O município serrano também já não é o que tem mais casos confirmados. Com 6.046 casos, foi ultrapassado por Vila Velha, com 6.054, cuja taxa de letalidade, também em maior aceleração, já está em 3,91%.


Busca ativa de contaminados é fundamental para controle da pandemia

Dados mostram que 61% dos infectados não procuram os serviços de saúde. É hora de fortalecer a atenção básica nos municípios


https://www.seculodiario.com.br/saude/busca-ativa-de-contaminados-e-fundamental-para-controle-da-pandemia

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