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Em audiência, moradores criticam falta de diálogo para a implantação do Integra Vitória

Com o anúncio de suspensão de 13 das 18 linhas da Integra Vitória, nessa quinta-feira (15), o prefeito Luciano Rezende (PPS) evitou que a audiência pública realizada nesta sexta-feira (16), na Câmara de Vitória, lançasse sua gestão numa fogueira ardente de críticas e protestos contra o projeto. O prefeito e sua gestão foram, sim, severamente criticados pela implantação sem diálogo do Integra Vitória e a tentativa de desqualificar os protestos; lideranças comunitárias foram à desforra. Mas com o recuo Luciano evitou um quadro ainda pior.

 
Cerca de 100 pessoas participaram da audiência. A proponente, a vereadora Neuzinha de Oliveira (PSDB), membro da base do governo na Casa, abriu o encontro destacando que o sistema de integração é bom. O problema estava na forma de implantação. E parabenizou a gestão pelo recuo. 
 
A fala de Neuzinha é um bom resumo do tom da audiência. Ninguém se colocou frontalmente contra o projeto de integração do sistema municipal de transporte. As críticas foram dirigidas à forma impositiva de implantação, à falta de diálogo, ao desrespeito às lideranças comunitárias. 
 
Morador de Itararé, Aílton Monteiro, lembrou o episódio em que a guerra do tráfico em Bairro da Penha impediu a circulação dos na região. Ali, lembrou, a prefeitura chamou as lideranças para intermediar a questão. “Mas ficamos trsites por não terem chamado a gente para discutir essa integração”, disse.
 
Presidente do Conselho Popular de Vitória (CPV), Robinho da Ilha, conhecido opositor de Luciano Rezende, também parabenizou o prefeito pelo recuo a agradeceu à mobilização das lideranças comunitárias durante as duas semanas de Integra Vitória. Mas fez uma ressalva: comparou o recuo a um cheque pré-datado, que só vale quando realizada a compensação. “Não houve vitória. A integração é bem-vinda, desde que não tirem os ônibus dos nossos bairros”.
 
A audiência pública chamou a atenção pela quantidade de vereadores presentes. Nove vereadores foram discursar. Nas sessões das últimas semanas, nenhum questionou de forma sistemática e regular os efeitos do Integra Vitória na cidade. As críticas foram esporádicas, ou seja, não refletiram a indignação das ruas. Neuzinha, Reinaldo Bolão (PT), Marcelão Freitas (PT), Max da Mata (PSD) e Zezito Maio (PMDB) foram os que em algum momento das sessões ordinárias ecoaram as críticas dos usuários.
 
Na audiência, Bolão apontou que duas coisas ficaram clara para ele com o Integra Vitória: trata-se de um projeto para combater a evasão de passageiros e reduzir custos dos empresários. Ele parabenizou a “ombridade” da Secretaria Municipal de Transportes (Setran) em reconhecer o erro. Também disse que o Integra Vitória é importante, mas não da forma como colocado.
 
Marcelão também parabenizou o prefeito pelo recuo e criticou o subsecretário de Mobilização Popular Anael Parente por tentar desarticular os protestos contra o sistema. 
Max da Mata criticou o esvaziamento da Setran. “Um projeto importante como o Integra Vitória e não tem nenhum subsecretário de Transportes para acompanhar”. Disse também que encaminhou requerimento de informações à prefeitura sobre a realização de estudos de origem e destino para a implantação do Integra Vitória. 
 
E criticou também o secretário de Transportes, Josivaldo Andrade: “Por que ele atende convite do Ministério Público Estadual (MPES) e não atende da Câmara para discutir isso?”, questionou. Josivaldo esteve na reunião dessa quinta no MPES para discutir o projeto com promotores e moradores. Mas, convidado pela proponente, declinou. Josivaldo foi bastante criticado na audiência pela postura soberba de desqualificar os protestos populares contra o projeto.
 

Liderança comunitária de Jaburu, que quarta-feira (15) desceu para Avenida Vitória em protesto, Cosme Santos de Jesus (foto acima) fez o discurso mais aplaudido da manhã. “Não duvido das boas intenções do prefeito com o Integra Vitória, mas gostaria que ficasse o exemplo para as próximas administrações que nenhum gestor público pode lançar qualquer projeto em Vitória sem, antes, consultar os moradores”. Foi ovacionado.

 
Ele prosseguiu: não dá para entender como, com a quantidade de meios de comunicação disponível, não houve diálogo com as comunidades. “As pessoas ficaram perdidads. Lideranças ficaram atordoadas, todo mundo sem informações”, concluiu.
 
Jônatas Procópio, liderança de Bonfim, também questionou a forma de implantação do projeto. Também evocou a metáfora do cheque pré-datado. “Não vou parabenizar o prefeito, só quando for dada a palavra final”. Pediu a volta da linha 074 e solicitou alterações na 164. Evandro Figueiredo, liderança de Jardim Camburi, destacou que o Integra Vitória não foi apreciado pelo Conselho Municipal de Transporte e Trânsito (Comutran). Elogiou também a iniciativa da veradora Neuzinha: a vereadora estava fazendo o que a prefeitura deveria ter feito.
 
A intervenção da coordenadora-geral da Associação de Moradores do bairro Itararé, Luciana Ribeiro, também foi aplaudida. “Fomos chamados de gatos-pingados, fomos chamados de baderneiros. Mas a luta está aqui. Que as lideranças comunitárias sejam respeitadas por essa gestão”, esbravejou, sob aplausos. O coordenador-geral da Associação de Moradores de Jardim da Penha (Amjap), Fabrício Pancotto, qualificou o episódio do Integra Vitória como “inabilidade política gritante do prefeito”.
 
Representante da Associação de Moradores e Amigos do Centro de Vitória. (Amacentro), Rosilene de Sá levantou um dado preocupante: a região perdeu nada menos que oito linhas com o Integra Vitória. 031, 051, 052, 104, 125, 151, 202, 204. A comunidade sentiu a extinção da 104, conhecida como a “linha da saúde”, uma vez que passa pelo Hospital Santa Casa de Misericórdia de Vitória, Hemocentro, Hospital das Clínicas e Hospital São Lucas. Lamentou também a extinção da linha 125, que passava por colégios e faculdades: Colégio Estadual, Salesiano, Ifes, Faculdade de Direito de Vitória (FDV), Fnac, Saberes e Emescam.
 
O gerente de Planejamento do Sistema de Transporte de Vitória, Heleno Barros, fechou a audiência. “Daqui para frente, o projeto vai caminhar junto com vocês”, afirmou. As propostas levantadas na audiência serão protocoladas no Ministério Público Estadual.

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