Numa entrevista esclarecedora sobre mobilidade urbana, que vai ao ar neste sábado (1) em Século Diário, o economista Taurio Tesssarolo não se mostra preocupado ou alarmado com a suspensão do projeto do BRT (vias exclusivas para ônibus) na Grande Vitória. Pelo contrário. “Acho que é uma janela de oportunidades para se discutir de forma mais aprofundada os impactos que as alternativas gerarão para esse espaço urbano”, analisa.
Taurio aponta que as políticas públicas de planejamento urbano elaboradas por governos e prefeitura no Espírito Santo, com foco especial na Grande Vitória, infelizmente não diferem do que se verifica no resto do Brasil: as tecnologias de transporte público – ônibus, BRT, VLT, Aquaviário, entre outras – correndo atrás do planejamento urbano.
Ele destaca que o transporte não é um elemento independente, de natureza própria, como em geral é tratado nas políticas públicas no Brasil, mas sim um elemento do planejamento urbano. Transporte e planejamento são, para ele, elementos que devem caminhar juntos.
O entrevistado também procurar desatar os nós que os recentes debates sobre a melhor tecnologia de transporte para a RMGV. Para ele, a politização do debate antes confundiu do que elucidou as coisas. Tanto que ele tem uma espécie de máxima: não há modal bom ou ruim, o que há são modais adequados ou inadequados para determinada região. Embora não defenda nem um, nem outro, para ele o recente debate BRT versus VLT é exemplo de discussão politicamente contaminada.
Daí que ele considera o BRT importante para a demanda da cidade, mas faz um alerta: que se discuta os impactos da implantação do BRT em uma cidade com as características físicas de Vitória.
O entrevistado mostra como as singularidades geográficas da Região Metropolitana da Grande Vitória dificultam, em comparação às demais regiões metropolitanas brasileiras, o planejamento urbano. Enquanto lá fora as capitais são grande ou pelo menor de dimensões equivalentes às dos municípios ao redor, aqui ocorre o contrário: Vitória é um pequeno pedaço de terra que concentra fatia significativa da movimentação econômica do estado.
Vitória, questiona Taurio, não é um corredor de passagem, como, segundo ele, muitos preferem considerar. É um polo de atração e origem de viagens, com apenas dois eixos de passagem, o que demanda bastante criatividade por parte das políticas públicas de urbanismo.
Na entrevista, Taurio não se coloca entre aqueles que demonizam o transporte individual motorizado. Para ele, são necessários, mas são mal utilizados. No Brasil, ainda não há como implantar medidas restritivas ao carro sem um sistema de transporte público estruturado. O entrevistado fala também do Aquaviário, que recusa como modal de centralidade: “A necessidade dele é inquestionável como sistema complementar”.