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Em meio a incertezas, ato marca um ano de deslizamento de rocha em Morro de Boa Vista

Os moradores de Morro de Boa Vista, em Vila Velha, atingidos pelo deslizamento de uma rocha gigante em janeiro deste ano irão fazer um ato domingo (1) para marcar um ano da tragédia que dizimou casas na região. A ideia é chamar a atenção das autoridades para o quadro de indefinição da situação. Moradores que tiveram de deixar suas casas, não sabem se poderão voltar e têm notícias vagas sobre pagamento indenização.
 
A filha de Maria Aparecida Falcão é um desses exemplos. Sozinha e com um filho de sete anos para criar, teve que deixar a residência logo após o acidente. Até tentou ficar, mas foi demovida pela equipe da Prefeitura de Vila Velha, que identificou risco de queda no local. A parede já havia caído, outras apresentavam condições precárias. “Hoje, com qualquer chuva, ela pode despencar”, conta Aparecida.
 
Auxiliar de serviços gerais em uma empresa de administração de condomínios, a filha de Aparecida mora há praticamente um ano com o filho de sete anos em outra residência pagando aluguel de R$ 300 do próprio bolso. Segundo Aparecida, ela recebeu o benefício do Aluguel Social por apenas um mês. Aparecida também denuncia distorções na concessão do benefício. Ela lamenta que muitas famílias em boas condições de moradia foram beneficiadas. “Não ajudaram quem tinha que ajudar”, critica.
 
Fincada no alto do morro, a casa Jackson Borel ainda expõe as rachaduras que se espalharam pelas paredes após o deslizamento. A rocha que caiu está a cerca de 10 metros da casa. Ele foi semana passada à Defesa Civil de Vila Velha atrás de providências para a casa, onde mora com a esposa, três filhos, duas netas e duas enteadas. Segundo ele, a Defesa Civil não acenou com respostas. A família quer indenização para reformar o local.
 
Após o acidente, a família não aceitou ir para o abrigo improvisado na Unidade Municipal de Ensino Fundamental (Umef) Juiz Jairo de Mattos Pereira. Viveu três meses em outra casa pagando aluguel do próprio bolso. A família resolveu voltar mesmo sob o risco de a casa desmoronar. Hoje, chuva e vento são motivo de preocupação. 
 
“O governo e a prefeitura falam que ajudaram, mas até agora não vi nada”, desabafa Jackson. Hoje uma lona cobre o telhado da residência para evitar infiltrações em dias de chuva.
 
Líder comunitária da região, a vereadora eleita Patrícia Crizanto (PMB) destaca a moradia e o saneamento como as principais carências da região. Ela lembra que o primeiro mutirão de limpeza no bairro aconteceu apenas em 2013 – e ainda não se repetiu. Como o acidente denunciou, moradias precárias em áreas de risco são comuns no local. O Morro de Boa Vista tem inúmeros pontos com esgoto a céu aberto. Muitas residências não têm coleta de esgoto, nem oferta de água tratada. Patrícia promete dar atenção para as duas áreas.
 
No dia 1° de janeiro deste ano, uma rocha de trinta mil toneladas deslizou e, incrivelmente, não fez vítimas. Pulverizou casas e condenou outras tantas. Cerca de mil pessoas tiveram que abandonar suas residências. Desabrigados e desalojados foram acolhidos na escola Jairo de Mattos Pereira, o que iniciou um capítulo extra de aflição nas famílias. 
 
Além da desinformação quanto a recebimento de Aluguel Social e da falta de perspectiva de retorno para as casas, as famílias tiveram que enfrentar a estrutura precária do abrigo. 
 
“Comida de presídio”, costumam dizer os desabrigados, sobre a alimentação servida no abrigo. Pessoas passaram mal, relatavam. A alimentação de almoço e janta era servida por duas empresas contratadas pela prefeitura, uma das quais prestadora de serviço para o Instituto de Atendimento Socioeducativo do Espírito Santo (Iases). As famílias também criticaram a estrutura do abrigo, o que, no final das contas, é criticar a estrutura da escola. Salas quentes com ventiladores quebrados e banheiros que empoçam à toa eram as queixas mais recorrentes.
  
A moradora Pâmela Rangel é mais uma que sofre com a falta de informação. A casa da mãe, uma construção espaçosa de quatro quartos, foi demolida em junho e está na lista da prefeitura para pagamento de indenização. Antes do acidente, a casa estava alugada. Um ano depois, as respostas ainda são vagas. “Falaram que vão esperar a nova gestão assumir para saber qual o posicionamento dela. Mas ainda não houve resposta de nada”, diz, sobre a indenização.

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