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‘Entrega das chaves’ ao Ifes marca simbolicamente destino do IBC

Comunidade e sociedade civil veem com bons olhos destinação educativa e tecnológica do local que seria leiloado pelo governo federal

Nesta sexta-feira (20), uma cerimônia marcou simbolicamente o novo destino dos galpões do IBC, localizado em Jardim da Penha. Um longo imbróglio envolveu o imóvel localizado em área total de 33 mil m² numa zona valorizada da Capital capixaba, depois da intenção de venda do espaço por R$ 25 milhões como parte do pacote de privatizações do governo federal. 

Cerimônia de entrega das chaves foi realizada no próprio IBC, com presença de autoridades. Foto: Leonardo Lopes/ Ifes

Anunciada no ano passado, a possibilidade de venda do local repercutiu negativamente entre parte dos moradores do bairro, entidades da sociedade civil e políticos, num debate acalentado pelo período de eleições municipais, em que as discussões sobre a cidade estavam mais afloradas.

A articulação por um uso social e comunitário do espaço ganhou força e foi acumulando argumentos e propostas por meio de reuniões, debates ao vivo e outras ações. Enquanto se discutam estratégias jurídicas para evitar a venda atropelada do imóvel sem qualquer consulta, o que desrespeitaria premissas de documentos como o Estatuto das Cidades, a aprovação em regime de urgência do tombamento provisório do imóvel pelo Conselho Estadual de Cultura ajudou a jogar um balde de água fria nos interesses imobiliários, que poderiam gerar grandes lucros para empresas do ramo, pois como bem tombado não poderia ser demolido para que fossem erguidos prédios em seu lugar.

Enquanto isso e em meio ao impacto social negativos, a movimentação em Brasília da senadora capixaba Rose de Freitas (MDB) ajudou a demover o governo de vez da ideia de venda do local, articulando uma cessão do IBC para o Ifes, que havia manifestado interesse em ocupar utilizar o imóvel, que historicamente serviu como depósito de café e posteriormente de grãos pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

Área total do imóvel tem 33 mil metros quadrados. Foto: Google Maps

A cessão do espaço ao Ifes pela Superintendência de Patrimônio da União (SPU), órgão público que administra os imóveis federais, tem prazo inicial de sete anos. Ao ocupar o local, o instituto federal economizará R$ 3 milhões anuais referente ao aluguel pago atualmente para o local que abriga a reitoria, que ficará junto com a instalação do Centro de Referência em Formação e em Educação a Distância (Cefor), de um Centro de Inovações que abrigará a Agência de Inovação do Ifes (Agifes) e a Incubadora, além de laboratórios multiuso e um espaço maker.

O Polo de Inovação Vitória, estrutura vinculada ao Ifes, já está sendo instalado em um escritório previamente existente no espaço dos Galpões, após a concessão da guarda provisória do imóvel, ocorrida no final de abril.

“O Centro de Inovações será destinado ao atendimento das demandas da sociedade por ações de empreendedorismo e inovação tecnológica, visando apoiar a elevação da produtividade e competitividade da economia capixaba, com inclusão social e geração de emprego e renda. Toda a gestão é do Ifes. Entretanto, a governança do espaço envolverá a participação dos setores mais relevantes da economia capixaba, em linha com o desenho conceitual construído de forma coletiva”, informou o Ifes.

O reitor do instituto federal, Jadir Pela, vem conduzindo um processo de diálogos com diferentes entidades públicas, privadas e da sociedade civil para articular os usos do local. “Ele sabe que existe esse sentimento de pertencimento dos moradores em relação àquele local e criou formas de ouvir nossa opinião. A gente sabe que é uma luta muito antiga e o desfecho foi muito bom, tenho certeza que os moradores serão muito bem representados com suas demandas e anseios”, diz Angelo Delcaro, diretor da Associação de Moradores de Jardim da Penha (Amjap), lembrando que as lutas pelo uso do local para fins comunitários e sociais vêm desde a década de 1980, com participação ativa da associação comunitária.

Reuniões e oficinas vêm sendo realizadas para articular os usos do IBC. Foto: Ifes

Entretanto, neste momento histórico, a Amjap, que possui diretoria colegiada com vários grupos políticos representados na coordenação, teve atuação confusa, especialmente no período eleitoral, quando interesses políticos ficaram acentuados. Mesmo depois das eleições, políticos de influência no bairro, como o vereador Luiz Emanuel Zouain (Cidadania), ainda jogaram contra o processo, tensionando a comunidade. Mas apesar do período de pandemia, membros da associação e outros moradores atuaram em favor da destinação social do imóvel, contando com apoio de diversas entidades da sociedade civil, especialmente o Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) e o grupo BR Cidades.

As formas como a comunidade e a sociedade poderão se apropriar do local para além dos usos propostos pelo Ifes ainda não estão desenhadas explicitamente, mas devem ser discutidas em grupos e comissões criadas, conforme informam os envolvidos.

De todas maneiras, o caso do IBC é emblemático de um conflito latente por todo o mundo sobre o rumo das cidades, confrontando o modelo de cidade-negócio, a serviço de lucros para o grande capital, com a proposta de usos coletivos e voltados para cidades mais humanizadas e inteligentes. Aparentemente, o primeiro modelo tem ganho a maioria das batalhas. O que torna ainda mais valioso o destino definido para o IBC.

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