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Entregadores de aplicativos fecham Reta da Penha em ato nacional da categoria

Os trabalhadores se concentraram em Jardim da Penha e seguiram para a Reta da Penha, onde se localizam empresas da área

A avenida Reta da Penha foi interditada na manhã desta quarta-feira (1), na altura da Petrobras, sentido Centro de Vitória, durante manifestação dos trabalhadores de aplicativos de entrega. O protesto fez parte da paralisação nacional da categoria. No Espírito Santo, a concentração começou às 8h, em Jardim da Penha, na Praça Regina Frigeri Furno (Praça do Epa). Posteriormente, seguiu para a Reta da Penha, em frente ao edifício Corporate Center, onde funcionam os escritórios de duas empresas de aplicativo.

Entre as reivindicações dos trabalhadores, estão o aumento do valor pago por quilômetro, o aumento do valor mínimo, o fim dos bloqueios indevidos, implantação de seguros de roubo, acidente de vida, e o pedido de auxílio alimentação e auxílio pandemia, para poderem se prevenir durante as entregas. O movimento também está alinhado a pautas que dizem respeito a toda classe trabalhadora, como o fim da retirada de direitos, que segundo eles, pode ser combatida somente por meio de mobilizações como a desta quarta.”O Estado está ajudando essas empresas a manter a exploração. O Estado, que deveria garantir nossos direitos, está destroçando cada vez mais, e não é de hoje. A reforma Trabalhista já veio dizimando nossos direitos. Enquanto a gente não se levantar, não fechar, não parar tudo, não parar o lucro dessas empresas, é isso que vai acontecer, cada vez mais direitos serão retirados”, diz Lemão, integrante do Coletivo Entregadores Antifascistas ES.

Lemão afirma que a realidade dos entregadores é de precariedade, pois no cotidiano do trabalho, eles não têm lugar para beber água, possibilidade de ir ao banheiro e as empresas não toleram o mínimo de atraso na busca da entrega. “Se a gente chegar no restaurante com trinta segundos de atraso, cancelam a entrega. Mas a gente chega a ficar 10, 15, até 30 minutos esperando a entrega ficar pronta. A empresa não pode esperar, mas eles acham que a gente pode”, afirma.

Vander Meireles

O integrante do coletivo Entregadores Antifascistas ES relata que essa realidade se tornou ainda pior com a pandemia. Não há disponibilização de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), como máscara e álcool em gel;  pagamento de insalubridade; e, apesar de o lucro das empresas ter aumentado significativamente, as promoções foram retiradas. Segundo Lemão, antes da pandemia, a empresa fazia promoções sazonais nas quais davam um valor a mais por cada entrega feita em um dia específico.

Outra queixa dos trabalhadores é que a quantidade de entregadores aumentou durante a pandemia e não há demanda para todo mundo, mesmo assim, as empresas estão contratando. 

O Coletivo Entregadores Antifascistas ES é um dos organizadores do ato de Vitória, juntamente com o Sindicato dos Trabalhadores de Aplicativos do Espírito Santo (Sintappes), que ainda não foi formalizado. Uma das lideranças que está à frente dessa organização é Gessé Gomes de Souza Júnior. “Estamos juntos nessa luta. Conseguimos reunir na manifestação cerca de 100 pessoas, entre entregadores e apoiadores, como militantes de movimentos sociais. Conseguimos transmitir uma importante mensagem e dizer a todos que nós existimos”, ressalta.

Diversas entidades já haviam demonstrado apoio à paralisação dos entregadores, que é a primeira do grupo realizada no País. Em carta pública do Fórum Capixaba em Defesa da Vidas das Trabalhadoras e Trabalhadores, mais de 40 entidades afirmaram que “a categoria vai parar suas atividades contra a intensificação da superexploração de sua força de trabalho desde o início da pandemia, que tem ocorrido sob a forma de aumento da jornada de trabalho, diminuição do salário, precarização das condições laborais, além da absorção, pelos trabalhadores, dos custos da prevenção à pandemia, uma vez que as empresas os deixam entregues à própria sorte, não garantindo o fornecimento de EPIs [Equipamentos de Proteção Individual]”, aponta o documento, que questiona o desamparo dos trabalhadores em contraposição ao aumento do lucro das empresas.
Vander Meireles

“A greve dos entregadores parte da realidade concreta de quem se vê à margem da proteção do Estado e de legislação trabalhista, cujo desmonte se aprofundou com a contrarreforma de 2017 e continua em franca consecução. É, portanto, a greve de uma categoria que simboliza a luta do conjunto da classe trabalhadora contra a opressão pelo trabalho de suas mãos, que produzem as riquezas e tornam possível o funcionamento do país”, diz o Fórum. “O grande e lucrativo mercado de entregas não funcionará sem os trabalhadores”, alerta o conjunto de entidades, que reforça as reivindicações da categoria.

Dados

Levantamento da Rede de Estudos e Monitoramento Interdisciplinar da Reforma Trabalhista (Remir Trabalho) informa que 60,3% dos entregadores entrevistados tiveram queda na renda durante a pandemia, contra apenas 10,3% que tiveram aumento nos ganhos. O número dos trabalhadores que ganhavam menos de um salário mínimo por mês praticamente dobrou, alcançando 35,7% do total, enquanto os que ganhavam mais que o equivalente a dois salários mínimos caiu da metade do total para 25,4%.

Segundo a pesquisa, 56,4% dos trabalhadores exercem as entregas por mais de 9 horas por dia. Além disso, 52% dos entrevistados trabalham todos os dias e 25,4% trabalham seis dias da semana, totalizando 77,4% no que a Rede de Estudos e Monitoramento da Reforma Trabalhista (Remir Trabalho) considera como trabalho a ser caracterizado como ininterrupto. A pesquisa foi realizada por meio de questionários online a 252 entregadores de 26 cidades. 

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