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Escola de Fé e Política vai formar lideranças de base na Igreja Católica

Anunciada recentemente, a Escola de Fé e Política Dom Silvestre Luís Scandian deve ser um espaço focado na formação de lideranças para fortalecer a atuação social da Igreja Católica no Espírito Santo. “O foco são pessoas com engajamento em pastorais ou comunidades eclesiais de base para promover formação política e consciência crítica. Não é uma escola para formar candidatos. É formar consciência crítica, para que a Igreja possa fazer o trabalho que sempre fez”, diz o professor de Filosofia da Universidade Federal do Estado (Ufes), Maurício Abadalla, coordenador pedagógico da escola.

Em 2020 serão 47 participantes dos ciclos de formação, incluindo leigos atuantes nas pastorais, seminaristas e outros indicados por entidades ligadas à igreja. Serão quatro módulos de formação com atividades a serem realizadas nos intervalos entre um módulo e outro. O primeiro deles acontece de 15 a 17 de maio, no Centro de Treinamento Dom João Batista, na Praia do Canto, em Vitória.

O Módulo um irá abordar a Bíblia e o ensino social da igreja, além de mística e espiritualidade. Num segundo encontro, o centro será a estrutura socioeconômica no Brasil e no mundo. No terceiro, uma abordagem sobre Estado e democracia, considerando a história política do Brasil e a conjuntura atual. 

Já o módulo quatro, que marcará o encerramento do curso, que deve ser anual, apresentará alternativas sociais para a transformação da atual realidade, considerando novos paradigmas de desenvolvimento, bem viver e iniciativas relacionadas com economia solidária, agroecologia e sustentabilidade. Também haverá destaque às formas de atuação dos cristãos na política por meio do engajamento nas pastorais e movimentos sociais e na defesa de direitos humanos e lutas das minorias sociais.

Maurício Abdalla explica que a criação de uma Escola de Fé e Política não é uma invenção capixaba, mas segue a direção da experiência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que fomenta o Centro de Fé e Política Dom Helder Câmara (Cefep), com foco na formação de cristãos leigos. A iniciativa no Espírito Santo fará parte da rede de escolas das dioceses que se relacionam com a rede da Cefep.

O coordenador pedagógico já assessorou experiências similares pelo Brasil, que considera muito positivas no sentido de ajudar a retomar o papel social e político que a Igreja Católica cumpria, sobretudo na década de 1980, por meio das comunidades eclesiais de base. “Se trata de formar as pessoas para atuarem no mundo de forma crítica, evitando o fundamentalismo e o uso da igreja para fortalecer o conservadorismo”, diz Abdalla.

“A formação crítica tem como consequência a atuação desses cristãos em movimentos sociais, uma atuação mais presente na sociedade, em diversas formas de fazer política, para impedir aqueles que querem manipulá-la para interesse próprio possam dominar esses espaços”, complementa o professor.

Ele cita a grande manipulação que vem acontecendo nos últimos anos no Brasil com a difusão de notícias falsas que são absorvidas por grande parte da população,por incapacidade crítica de uma análise mais profunda. “O povo está carente desse tipo de formação. Se a sociedade civil não assumir o trabalho de formação, a massa vai continuar sendo manipulada”, considera, ressaltando que a Escola de Fé e Política é uma iniciativa eclesial mas que ações com formato similar poderiam e deveriam ser feitos em outros espaços como sindicatos, partidos políticos, movimentos sociais e culturais e organizações das periferias.

No entender do coordenador pedagógico do projeto, a Escola de Fé e Política reflete o espírito que o Papa Francisco vem manifestando para a Igreja Católica. “Não é um novo espírito, mas como um papa latino ele está recuperando características que a igreja teve na América Latina, de ser uma igreja popular, mais próxima da realidade do povo e da política”, afirma, lembrando como um dos marcos a Conferência do Episcopado em Medellín em 1968, no embalo do Concílio Vaticano II, em que se destacou o debate sobre o papel da Igreja Católica na transformação social da América Latina, traçando diretrizes de atuação.

Mauricio Abadalla destaca também a acolhida imediata da proposta por Dom Darío Campos, que se tornou Arcebispo de Vitória no início do ano passado e vem apoiando o fortalecimento do papel social da Igreja e seu engajamento junto à sociedade. A coordenação executiva da Escola de Fé e Política será exercida por Vitor César Zile Noronha, com apoio de uma coordenação geral e de uma rede de assessores.

O nome do projeto homenageia Dom Silvestre Luiz Scandian, religioso capixaba falecido em 2019, que foi Arcebispo de Vitória por 20 anos, entre 1984 e 2004, sucedendo Dom João Batista da Mota e Albuquerque

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