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Exigência da nova rodoviária de Guarapari sacrifica 10 mil usuários de ônibus

Cerca de 10 mil usuários de ônibus intermunicipais devem ser prejudicados em Guarapari caso o embarque e desembarque passe a ser realizado somente na nova rodoviária, localizado às margens da BR-101, próximo ao contorno da Rodovia do Sol. A alteração não é resultado de estudos, planejamentos ou da opinião de passageiros: é meramente uma exigência do contrato firmado em 2011 entre a Telavive, empresa administradora do espaço, e a prefeitura municipal.
 
“Nós gostaríamos que fosse mantido nosso direito de ir e vir. Eles dizem que a mudança é para melhorar o fluxo. Mas só há fluxo no verão em Guarapari”, diz a enfermeira Iraci Marques, porta-voz de um grupo de cerca de 500 usuários das linhas Ipiranga/Dom Bosco, que atende cerca de seis mil pessoas por dia que trabalham, estudam ou realizam outras atividades em Vitória, Vila Velha, Serra, Cariacica e Viana. A nova exigência deve entrar em vigor a partir deste sábado (6). Segundo ela, perto de 10 mil pessoas dependem das linhas intermunicipais que atendem o município.
 
Iraci é exemplo de como uma alteração mal-planejada bagunça o funcionamento do transporte público de qualquer cidade, altera a rotina e a comodidade dos usuários, já habituados à operação das linhas, e, ainda, traz prejuízo econômico. 
 
Para chegar ao trabalho às 7h em Vitória, hoje ela precisa apenas caminhar 10 minutos de casa ao ponto de ônibus para embarcar em um Ipiranga/Dom Bosco que passa às 6h. A alteração esfacelaria essa comodidade. Ir de carro até a rodoviária levaria 20 minutos. 
 
O prejuízo econômico é, claro, o principal temor. 
 
Ir de ônibus para a rodoviária seria o pior dos mundos: significaria levantar mais cedo e desembolsar mais uma tarifa. Hoje ela gasta R$ 18,80 por dia com passagem. Se passar a depender do transporte municipal, serão mais R$ 5 diários. Não há bolso que aguente. Daí que Iraci receie também desemprego: o desembolso de mais uma passagem deve bater no bolso de empregadores já às voltas com um cenário adverso de crise econômica.
 
Ela explica que a linha que parte do bairro Ipiranga, em Guarapari, com destino à Avenida Marechal Mascarenhas de Moraes, em frente ao antigo Terminal Dom Bosco, Forte São João, Vitória, foi criada nos anos 80 para atender a trabalhadores e estudantes e que hoje ainda são essenciais os transportes de pessoas entre Guarapari e as cidade-polo da Grande Vitória. A empresa Planeta faz a rota via BR-101 e a empresa Alvorada faz a rota via Rodovia do Sol.
 
A alteração inverte a lógica tão propalada por especialistas em transporte de que é o sistema que deve ser adaptar à cidade – e não o contrário. É uma mudança que se ressente de qualquer fundamentação técnica. Não houve pesquisa de origem e destino dos passageiros, nem estudos da malha viária da cidade, nem qualquer outra espécie de planejamento que fundamentassem a mudança de rota, que tira os ônibus do Centro da cidade. 
 
Ao invés de trazer mais rapidez, conforto e comodidade aos passageiros, a exigência promete o contrário: viagens mais demoradas, caras e incômodas, com maior tempo de espera nos pontos e gasto de passagem. Um retrocesso, em suma. 
 
Uma das líderes da formação da região da Grande São Pedro, em Vitória, a militante social Graça Andreatta descreve como “desastre econômico” impedir que ônibus circulem pelo Centro da cidade. “O que sustenta Guarapari é seu entorno”, diz ela, que hoje mora em Piúma. Como muitos moradores de Piúma, Anchieta e Itapemirim, Graça vai pela menos cinco vezes por semana a Guarapari em busca da atividade comercial do município, que é mais vigorosa. Também participa de atividades de militância social e de grupos culturais.
 
Ela teme ainda impacto na tradição do artesanato de concha da região. Muitos artesãos de Anchieta, Piúma e Itapemirim precisam de Guarapari para comprar material. É também o município que centraliza reuniões de grupos de movimentos sociais, lazer ou de outros segmentos na região. “A reivindicação de Guarapari é melhorar o tráfego do Centro, mas não tirando os ônibus”, pondera. 

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