Quinze unidades habitacionais foram disponibilizadas no prédio do antigo Cine Santa Cecília, também no Centro
Quinze famílias que tiveram que sair do Morro da Piedade, em Vitória, devido à violência, terão ainda este semestre uma nova residência. Será no prédio do antigo Cine Santa Cecília, no Parque Moscoso, também no Centro. Elas foram contempladas por meio do projeto Terra Mais Igual, da Prefeitura de Vitória, e já escolheram a unidade habitacional onde irão morar. Além dessas famílias, outras 20, que passaram por problemas de risco geológico, foram beneficiadas.
Um dos ex-moradores da Piedade contemplados é o guia de turismo Wanderson de Jesus Santtana. Sua família teve que sair da Piedade em 2018, após seu irmão, Wallace de Jesus Santtana, ser assassinado. No mesmo dia do crime, sua mãe teve a casa incendiada. Sem ter onde morar e tentando fugir de um lugar cheio de lembranças tristes, eles abandonaram o morro e, depois, conseguiram aluguel social. “Agora a gente vai ter o nosso cantinho. Viver de aluguel nunca esteve em nossos planos”, diz.
A conquista do aluguel social foi obtida judicialmente, por meio da atuação da Defensoria Pública do Espírito Santo (DPES), por intermédio do Instituto Raízes. Em março de 2019, a DPES ingressou com um agravo de instrumento com pedido de antecipação de tutela recursal, para que o benefício fosse pago em caráter de urgência. O pedido foi apreciado e deferido pelo desembargador Jorge do Nascimento Viana no mesmo mês.
Segundo o integrante do Instituto Raízes, Jocelino Júnior, a disponibilização de unidades habitacionais no Parque Moscoso foi uma iniciativa da PMV, que prefere não continuar pagando o aluguel social.
Segundo investigações feitas na época, a violência se intensificou naquele ano, pelo fato de traficantes do Complexo da Penha e do Morro São Benedito terem expandido seus domínios para regiões do Centro, incluindo a Piedade e o Morro do Moscoso, que fazem divisa.
Até o primeiro semestre de 2020, nove jovens haviam sido assassinados na região, o que motivou manifestações e cobranças para que o poder público efetivasse políticas públicas não somente na área da segurança, mas também nas de saúde, educação e lazer. Até o momento, as reivindicações não foram plenamente atendidas pelas gestões estadual e municipal, que se comprometeram com 15 demandas.
Entre elas está a construção de uma praça, na qual os moradores também querem que seja instalada uma base da Polícia Militar (PM). Entretanto, até o momento, foi feito somente um chão batido com cimento, em 2020. Nada de mesas, cadeiras, brinquedos, área de prática esportiva e outros itens contidos no projeto, nem a base da PM.
Outra reivindicação não atendida foi o atendimento psicológico nas escolas, pois têm crianças e adolescentes traumatizados com a violência ocorrida na comunidade, assim como a atuação de agentes de saúde no território e a limpeza e capinagem do local.