O governo Paulo Hartung cancelou em uma canetada as licitações de implantação do BRT (vias exclusivas para ônibus na Grande Vitória) e de estudo para construção de ciclovia na Terceira Ponte. O motivo alegado é “administrativo”. Com as duas medidas, publicadas no Diário Oficial desta quinta-feira (11), Hartung fecha uma espécie de ciclo de retrocesso e consolida o retorno à estaca zero das ações de mobilidade urbana no Espírito Santo.
Analisar o primeiro ano de governo Paulo Hartung é registrar uma série de retrocessos em mobilidade. O governador abortou todas as ideias que de alguma forma representavam a tentativa de transformar o modelo de mobilidade na Grande Vitória.
Tudo começou em 26 de janeiro de 2015, com a publicação no Diário Oficial do cancelamento do edital do Sistema Aquaviário, também por motivo “administrativo”. Em abril, durante a apresentação do Seminário de Planejamento Estratégico, o vice-governador César Colnago (PSDB) apontou para a reestruturação do BRT. O edital da Quarta Ponte, nova ligação entre Vitória e Cariacica, foi cancelada em janeiro deste ano.
A suspensão de novas ideias veio acompanhada pela mesmice. Em janeiro deste ano, o governador autorizou o reajuste da passagem do Sistema Transcol de R$ 2,45 para R$ 2,75, um aumento de 12,24%, índice maior que a inflação registrada em 2015 (10,67%). Desde então, Hartung já enfrentou três protestos contra o aumento das passagens. O quarto deve acontecer na próxima semana.
Por fim, também neste janeiro, o governador avalizou o reajuste das tarifas dos pedágios da Terceira Ponte, em Vitória, e da Rodovia do Sol (ES-060), em Guarapari, administrados pela concessionária Rodosol. Na ponte, a tarifa do carro de passeio passou de R$ 0,80 para R$ 0,95; no curto trecho de 67 Km da ES-060 a tarifa saltou de R$ 7,20 para R$ 8,50.
Resumo da ópera: o governo Hartung joga para o cidadão os custos do ajuste fiscal.
O Sistema BRT nasceu para remodelar o padrão de deslocamento na Grande Vitória, há quase três décadas sustentado pelo Sistema Transcol, um modelo esgotado há pelo menos uma década, como indicam a tarifa cara, a superlotação e as viagens demoradas.
Há anos a Grande Vitória demanda um novo modelo de transporte de alta capacidade. O projeto previa a construção de 35 quilômetros de vias exclusivas de ônibus entre Laranjeiras, na Serra, passando pelas avenidas Fernando Ferrari, Reta da Penha, Praça do Cauê e Centro de Vitória; em seguida, Jardim América, em Cariacica, e depois pela Avenida Carlos Lindenberg até o Corredor Bigossi, em Vila Velha. Ao todo seriam 10 terminais, quatro portais e 43 estações dentro do sistema.
Após os protestos de junho de 2013 e as cobranças por novas ideias de mobilidade, a proposta de ciclovia na Terceira Ponte nasceu como uma das principais demandas de ciclistas e cicloativistas da Grande Vitória. Para este segmento, o único meio formal de atravessar a ponte é o ônibus Bike GV. Pelo menos desde 2009 ciclistas atravessam a ponte em pedaladas e bicicletadas para cobrar das autoridades a instalação de estruturas que favoreçam não apenas os carros.
A ciclovia na Terceira Ponte foi a proposta de iniciativa popular mais votada no site do Orçamento de 2015, o que lhe conferiu a qualidade de prioridade. O edital para elaboração de estudo de concepção e viabilidade técnica, projeto básico e projeto executivo para a construção de passeios e ciclovias na ponte foi publicado em setembro do mesmo ano ao valor de R$ 2,1 milhões.
Em dezembro, a Secretaria de Estado dos Transportes e Obras Públicas (Setop) suspendeu o edital após o Ministério Público de Contas do Estado do Espírito Santo (MPC) emitir recomendação pela suspensão. O pedido do MP de Contas se fundamentou na ausência de parecer jurídico por parte da Procuradoria-Geral do Estado (PGE) e análise econômico-financeira da Secretaria de Estado de Controle e Transparência (Secont).