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Incra assegura que terra reivindicada por empresa pertence a ribeirinhos

A empresa União Engenharia Fabricação e Montagem está mesmo pressionando as famílias de ribeirinhos que vivem as margens do Rio Doce, no distrito de Regência, no litoral de Linhares. A afirmação é do superintendente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), João Cândido Rezende. Segundo ele, a área almejada pela empresa de metalurgia é ocupada por famílias de ribeirinhos, cuja origem pode chegar até o aclamado Caboclo Bernardo. 
 
“Realmente está havendo uma pressão da empresa sob esta comunidade. A empresa comprou a fazenda ao lado, mas há um conflito porque me parece que a área dos posseiros está cadastrada como posse da fazenda, mas na prática, são áreas diferentes”, explicou. 
 
A afirmação do superintendente confirma a denúncia feita pelo Movimento de Pequenos Agricultores (MPA) a respeito da pressão feita pela empresa para que as famílias deixem a região. 
 
Mas, de acordo com o superintendente, apesar da compra de uma fazenda na região ser legítima, a área comprada pela empresa União Engenharia tem pouco mais de 200 hectares, mas não abrange a área ocupada pelos ribeirinhos. “A área dos ribeirinhos é vizinha, é separada da área comprada. Ali vive um pessoal muito simples, possivelmente de origem indígena”, contou. 
 
O superintendente, que se reúne nesta tarde com um representante do Conselho de Direitos Humanos, informou que vai propor a Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) um estudo antropológico para atestar a tradicionalidade das famílias que, segundo ele, pode chegar até o herói Caboclo Bernardo, homenageado anualmente na região.
 
Durante o conflito, que começou em fevereiro deste ano e se acirrou na segunda (12) desta semana, os ribeirinhos afirmam que sofrem coação de funcionários da empresa União. Até esta sexta-feira (16), eles denunciam o cercamento da área, a instalação de uma porteira de ferro com cadeado na entrada da área, a soltura de 150 cabeças de gado que estão destruindo os alimentos plantados e o trânsito de pessoas armadas pela região. 
 
Para o Movimento de Pequenos Agricultores (MPA) que acompanha o caso, a postura da União Engenharia remonta o cenário coronelista de coação e desrespeito à dignidade humana, humilhação, constrangimentos e prejuízo. 
 
Após reunião realizada nessa quarta-feira (14), os ribeirinhos alertaram que não irão ceder às pressões. “Considerando que os senhores agem como os assassinos de nosso antepassado, e nos encurralam com ameaças, nós afirmamos: não estamos dispostos a entregar a outra face! Não nos resta outra saída! De hoje em diante, lutaremos pela paz, pela vida e por nosso território, ainda que seja a última batalha dos últimos botocudos sobreviventes nas margens do Rio Doce”.
 
Caboclo Bernardo
 
O ato heróico de Bernardo José dos Santos, o Caboclo Bernardo, ocorreu em setembro de 1887, quando o Cruzador Imperial Marinheiro navegava em águas próximas ao território de Regência. A embarcação naufragou ao se chocar contra o pontal sul da barra do Rio Doce e o pescador foi o grande responsável pelo salvamento de 128 pessoas – todos tripulantes do navio, que contava com 142 tripulantes.
 
Na vila de Regência o ato é lembrado todos os anos através de um encontro sempre realizado próximo à data da morte de Caboclo Bernardo, que faleceu, em junho.
 
A Festa do Caboclo Bernardo tem espaço também para homenagear Elpídio Angelo de Macedo, popularmente conhecido como Seu Miúdo. Natural de Colatina, ele foi uma figura fundamental para o resgate da memória do pescador: ao lutar para conseguir um túmulo digno para o herói e ficar conhecido como guardião do Túmulo de Caboclo. 
 
Apesar de não ter sido reconhecido como tal pela história, conta-se que Caboclo Bernardo era descendente de índios botocudos que habitavam a região no passado. .

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