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Investimento da Vale em futebol de Minas gera críticas de torcedor da Desportiva

O estádio Engenheiro Araripe, em Jardim América, foi construído pela Vale e entregue à Desportiva 

Leonardo Sá

Uma movimentação da Vale que pode agitar o futebol em Minas Gerais, ainda não confirmada, já provoca revolta entre os aficionados do futebol capixaba, principalmente os torcedores da Desportiva Ferroviária. Nessa quarta-feira (10), veio à tona a notícia de que a mineradora pode ser uma nova parceira comercial dos três clubes de futebol de Belo Horizonte.

América de Minas, Cruzeiro e Atlético Mineiro, segundo matéria veiculada inicialmente no Superesportes e confirmada por outros veículos da imprensa especializada, são os clubes que poderão ter a marca da Vale, com investimentos de R$ 7 milhões no América, R$ 3 milhões no Cruzeiro, e R$ 1 milhão no Atlético.

A negociação ocorre pouco mais de quatro anos depois do rompimento da barragem de Mariana, com um saldo de 19 mortos, e do crime de Brumadinho, localidades de Minas Gerais, provocando quase 300 vítimas fatais, além de destruir parte considerável da bacia do Rio Doce, com impacto desfavorável em várias comunidades do Espírito Santo. Nessas duas tragédias, ainda há muitas pendências judiciais, que se elevam a milhões de reais.

“Esses recursos poderiam ser investidos no Espírito Santo, na Desportiva Ferroviária, clube fundado pela Vale”, comenta Alex Amaral, torcedor do clube desde 1992, acrescentando: “Nós aqui também sofremos os efeitos do rompimento das barragens, então por quê não investir aqui?”.

Sem esconder a decepção, Amaral compara a movimentação da Vale e o descaso da empresa para com a Desportiva com “um pai que abandona um filho para amparar outros com os quais não tem tanta ligação assim”. Funcionário público e integrante da torcida organizada, à qual se junta Dudu, Pepê e tantos outros, na tentativa de reviver o futebol na década de 70, ele lamenta a postura da empresa, mas assevera que a Desportiva sobreviverá às dificuldades.

“Refundei a Grenamor em 2008, com muito orgulho”, comenta Amaral, e destaca a situação “muito difícil” do futebol capixaba. “Bastava R$ 1 milhão desse dinheiro aí para transformar a Desportiva num grande time, assim como o Liverpool, para mim o melhor da Europa”, diz, lembrando a importância e a organização do secular clube inglês, fundado em 1892.

A Desportiva Ferroviária existe desde 1963, época em que a gigante da mineração mundial, hoje a maior poluidora no Espírito Santo, ainda se chamava Vale do Rio Doce, uma referência ao rio que corta parte do Espírito Santo, de Minas até o distrito de Regência, no município de Linhares, norte do Estado. 

A empresa construiu o estádio Engenheiro Araripe, no bairro de Jardim América, Cariacica, e o entregou ao clube.  A privatização da então Companhia Vale do Rio Doce, maior produtora de minério de ferro do mundo, deixou a Desportiva na mão, em 1998. Naquele ano, o clube perdeu as boas colocações e ficou em último lugar no Campeonato Capixaba. As ações de marketing passaram a ter outro foco. 

A bacia do rio que deu nome à empresa foi devastada pelo rompimento da barragem de Mariana, em 2015, no maior crime ambiental registrado no Estado. Centenas de famílias mineiras e capixabas ainda passam por extremas dificuldades, enquanto a Vale retarda providências para regularizar a situação, sendo necessário acionar a Justiça por meio de processos que se desenvolvem vagarosamente.

O rompimento das duas barragens, com suspeita de negligência da empresa, gerou várias ações judiciais. Para tentar recuperar a imagem, recentemente a Vale doou respiradores para ajudar no combate ao coronavírus. Quanto aos capixabas, fica a frase de um torcedor, buscada na fase em que a empresa abandonou a Desportiva: “No Espírito Santo, a Vale deixa poluição e o apito do trem”.

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