O governador que abortou todo e qualquer projeto que, em última instância, significaria destronar o carro como padrão de transporte, criou o Dia Estadual sem Carro. Paulo Hartung (PMDB) sancionou decreto, publicado na edição dessa sexta-feira (1) do Diário Oficial, instituindo a data em 22 de setembro, mesma em que o Dia Mundial sem Carro é celebrado.
Com Hartung, os carros gozam de um domínio inabalável como padrão de deslocamento – quem vai trocar o conforto, rapidez e segurança de seu veículo pela superlotação, demora e receio do Transcol? O governo Hartung reforçou esse domínio nos primeiros meses de 2016 ao piorar o que já era ruim: aumentando a tarifa dos ônibus e permitindo uma política de redução de frota das empresas. O lucro das empresas foi majorado ao custo de mais superlotação e demora.
Antes Hartung fez ainda pior. Ceifou projetos de mobilidade para mudar a forma como as pessoas se deslocam na região metropolitana, como as licitações de implantação do Sistema BRT (vias exclusivas para ônibus na Grande Vitória), do Sistema Aquaviário e de estudo para construção de ciclovia na Terceira Ponte. Retrocessos em série.
Na Europa, onde o dia 22 de setembro foi marcado como o Dia Mundial sem Carro, muitas cidades reservam toda a semana para debater a dependência criada entre pessoas e carro com o objetivo de discutir formas alternativas de mobilidade.
Especialistas em mobilidade apontam que restrição aos carros passa pela restrição a obras rodoviaristas – ampliação de ruas e avenidas, construção de pontes e viadutos – que só atraem mais carros. Não é o que Hartung pensa, vide as obras de ampliação da José Sette, o Contorno do Mestre Álvaro, na Serra, a ampliação da Avenida Leitão da Silva, em Vitória, o Corredor Leste-Oeste, entre Vila Velha e Cariacica, e a Rodovia do Contorno, em Cariacica, todos de cunho rodoviarista.
São justamente as que sobreviveram à tesoura fiscal do governador. Aí não há dia estadual, nem mundial, que dê jeito.