Os Jogos dos Povos Indígenas do Espírito Santo já têm nova data. Acontecerão nos dias 20, 21 e 22 de janeiro. O evento, que seria no final de novembro, foi cancelado devido aos ataques no Centro Educacional Praia de Coqueiral (antigo Darwin) e na Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio (EEEFM) Primo Bitti, ambas em Aracruz, norte do Estado, que vitimou, inclusive, uma indígena da aldeia de Caieiras Velha, onde seria realizado o evento.
Não haverá mudança nas modalidades esportivas, que continuam a ser Arco e Flecha, Bodoque, Zarabatana, Arremesso de Lança, Luta Corporal, Corrida com Tora, Corrida Livre e Cabo de Guerra, nas categorias masculino e feminino. A escolha teve como um dos critérios o fato de serem atividades desenvolvidas no passado, resgatando a memória da cultura local. Os primeiros colocados receberão troféu e medalha. Quem ficar em segundo, somente medalha.
O evento, que está na segunda edição, tem como objetivo fortalecer a identidade dos indígenas do Estado; preservar sua cultura, transmitindo-a para os mais jovens; fazer resgate das aldeias de Aracruz; e denunciar o desrespeito aos povos indígenas, principalmente as consequências do rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, Minas Gerais, crime ocorrido em 2015. Além dos Jogos, nos três dias haverá apresentações culturais, danças e cantos tradicionais, rodas de conversa, feira de artesanato e exposição fotográfica do jornalista, fotógrafo e fundador do Século Diário, Rogério Medeiros.
Modalidades
Zarabatana é um instrumento de caça antigo, que não se usa mais. O Bodoque, que também é uma arma de caça, ainda é usado nas aldeias de Aracruz por algumas pessoas. A corrida com tora remete ao tempo em que os fogões eram a lenha, por isso, os indígenas tinham que buscá-las longe, trazendo nas costas. “É uma forma de mostrar para os mais jovens como a vida era sofrida, e isso acabou virando uma prática esportiva. Aí se vê a luta do dia a dia como uma forma de geração de vida”, diz um dos organizadores do evento, Jocelino Tupiniquim.
Arremesso de Lança recorda uma pesca tradicional na qual dois indígenas na canoa, em cuja ponta tem um lampião, arremessam a lança para atingir o peixe que está boiando. Entretanto, trata-se de uma prática inviável em meio às comunidades indígenas de Aracruz, devido à contaminação dos peixes, causada pelos rejeitos de minério da Vale, Samarco e BHP Billiton, oriundos do rompimento da barragem de Fundão. Esse também é o motivo pelo qual, ao contrário da primeira edição, não haverá a modalidade nado.
A partir da criação dos Jogos, em 2018, foi feito um dossiê encaminhado para a gestão de Renato Casagrande (PSB) para nortear políticas públicas de reconhecimento dessa atividade como parte do calendário esportivo. Com base nisso, a deputada estadual Iriny Lopes (PT) apresentou um projeto de lei, aprovado e sancionado. O mesmo aconteceu na Câmara de Aracruz, por meio do vereador Vilson Jaguareté (PT). “A gente precisa se articular para colocar em prática essa lei e pensar diretrizes de desenvolvimento desses jogos de forma mais organizada dentro dos territórios”, aponta Jocelino.
Os Jogos são uma realização do Centro Cultural Tupinikim, por meio do Instituto Indígena Cocar. Tem apoio da Secretaria Estadual de Cultura por meio do prêmio da Funcultura de Diversidade Cultural, do vereador Vilson Jaguaretê, da Associação Indígena Tupinikim e Guarani (AITG) e da Associação Indígena Tupinikim de Caieiras Velha (AITCV).