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​Projeto da Universidade Livre de Cotaxé terá como base a construção coletiva

Vander Costa destaca que um dos espaços de discussão com a comunidade será na Jornada de Cotaxé, em agosto

A discussão coletiva, englobando grupos de Vitória e de Cotaxé, em Ecoporanga, norte do Estado, será uma das bases para a organização da Universidade Livre de Cotaxé e das Lutas Sociais, em criação no município. “Queremos ouvir a comunidade, por mais que a gente ache que tenha algo legal para oferecer, a gente tem que saber o que as pessoas de lá querem”, diz Vander Antônio Costa, um dos articuladores da universidade.

A Universidade Livre de Cotaxé foi idealizada por um grupo de ativistas e artistas capixabas. Sua pedra fundamental foi lançada em janeiro deste ano. Entre seus objetivos estão a preservação da memória histórica das lutas camponesas no Espírito Santo; a sensibilização dos trabalhadores, em especial as novas gerações dos acampamentos e assentamentos da reforma agrária, a partir dos trabalhos de educação popular; parcerias com coletivos envolvidos com pesquisas e estudos que priorizem saberes e práticas camponesas de convivência; além de promover, apoiar e subsidiar iniciativas de lutas dos trabalhadores do campo, das águas e das florestas.

Vander destaca que é preciso chamar atenção dos moradores da região para o projeto da universidade e, assim, ampliar sua participação nos debates sobre a criação desse espaço. Para isso, uma das estratégias é o que ele chama de “guerrilha virtual”. Trata-se da afixação de 100 placas com a frase “Cotaxé-ES Capital das Lutas Camponesas do Espírito Santo”.

A “guerrilha virtual” acontece durante a Jornada de Cotaxé, que será nos dias 20 e 21 de agosto. O evento contará ainda com atrações culturais, roda de conversa com moradores.  “Queremos envolver a comunidade, chamar atenção de quem está nela e fora dela para compreender a importância de Cotaxé para a história das lutas camponesas capixabas”, diz Vander.

O emplacamento será a primeira ação do evento, no dia 20, às 14h. Nesse mesmo dia, às 19h, haverá apresentação musical de Vander, acompanhado dos músicos Johnson Sudre, Yuri Guijansque e Patrick Ericson, na qual irão tocar as músicas do álbum Bota Fé, com ritmos variados. Posteriormente, haverá show de rock com Juliano Gauche, de Cotaxé, acompanhado do violinista Fábio do Carmo. Todas apresentações musicais serão feitas na futura sede da Universidade Livre de Cotaxé.
No dia 21 acontecerá uma roda de conversa com representantes da comunidade local. Trata-se da última atividade da Jornada, na qual serão levantadas propostas para o projeto da Universidade Livre de Cotaxé. Para instalação da Universidade foi adquirido um imóvel na região, que também servirá de abrigo para o Memorial Cotaxé e um museu sobre as disputas entre camponeses e latifundiários que marcaram a história da localidade, ainda sem previsão de inauguração.
A universidade, explica Vander, não seria vinculada ao Ministério da Educação (MEC). Seu objetivo será oferecer cursos sobre questões populares, estabelecendo parcerias com a Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), o Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes), escolas agrícolas, entre outras instituições de ensino.
A universidade também estará aberta para movimentos sociais, coletivos e pessoas que queiram contribuir, não sendo descartada a possibilidade de, além de atividades presenciais, serem realizadas também as virtuais.
Haverá um ônibus saindo do Teatro da Universidade Federal do Espírito Santo, no campus de Goiabeiras, dia 19 de agosto, às 22h. Os custos para transporte, alimentação e atrações culturais são de R$ 190,00. A hospedagem é gratuita, na casa de moradores da região, na sede da Universidade, além de haver espaços para que quer acampar. Os interessados em participar devem procurar Vander pelo telefone (27) 99824.7770.
Histórico
No início da década de 1950, sob liderança de Udelino Alves de Matos, lavradores, posseiros e sem-terra se uniram contra os latifundiários para lutar pelo acesso à terra na região de Cotaxé. A luta foi fortemente debelada por militares e jagunços e levou à fuga e morte vários camponeses e lideranças, fazendo valer os interesses de fazendeiros e madeireiros da região.
A insatisfação da população seguiu, porém, e novamente se organizou, anos depois, já sob liderança do Partido Comunista do Brasil (PCB), um conflito que se estende até os primeiros anos da ditadura civil-militar iniciada em 1964.
Com a terra nas mãos de poucos, Ecoporanga teve o início de sua economia moderna com a extração madeireira, seguida pelo café, que com a política de erradicação, foi sendo substituída pelo gado leiteiro e de corte, que hoje ocupa grande parte do território, em sua imensa maioria desmatado, com uma população humana que decresceu ao longo das décadas enquanto a população bovina crescia e a superava. Mais recentemente, a indústria de mármore e granito também vem ocupando destaque na economia, com base no extrativismo mineral.
Mas esse histórico não fez desaparecer as lutas pela posse das terras, retomadas com força a partir da década de 1980 pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que conquistou alguns assentamentos na região. Há 10 anos, o movimento luta para a criação de um novo assentamento, no atual acampamento Derli Casali.

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