A professora de Arquitetura e Urbanismo da Faesa Viviane Pimentel, que coordena o projeto junto com a colega Michela Pegoretti, conta que o estudo partiu de uma base cartográfica fornecida pela prefeitura com 1.618 imóveis passíveis de levantamento e buscou, por observação e consulta a vizinhos e comerciantes locais, avaliar uma estimativa do número de imóveis abandonados e apontar o local destes.
Ela considera que algum imóvel que estava fechado porventura pode ter outro uso não registrado pela pesquisa, mas isso não ocorreu a ponto de dar um incremento tão grande, o que indica que em três anos o abandono tem crescido. “O número vem aumentando, sendo que se passaram dois anos de pandemia, o que certamente impactou de forma significativa no aumento desses imóveis ociosos. Não temos dúvida de que o impacto foi muito grande”, disse.
Viviane considera que o mapeamento revela de forma concreta o problema e que a situação merece uma atenção assertiva da administração municipal. “Geograficamente, o mapa revela a presença de imóveis em estado de ociosidade em todas áreas do bairro. Dividimos em sete para efeitos de mapeamento e todas elas possuíam espaços nesta situação”, aponta. Porém, a professora indica que é possível observar concentração maior em algumas áreas específicas, como a Avenida Jerônimo Monteiro, Rua Sete de Setembro e Cidade Alta, o que faz supor que os usos mais impactados sejam dos espaços comerciais, de serviços ou institucionais, já que são fortes nessas localidades. Há também vários imóveis de uso residencial ociosos, porém mais dispersos pelo território.
São informações que podem ajudar a prefeitura a elaborar projetos e políticas públicas para incentivar o uso desses espaços ociosos e para a recuperação dos imóveis. A coordenadora do projeto considera problemático o aumento do número de imóveis fechados, já que isso implica em menos pessoas circulando pelo bairro, o que traz consequências como enfraquecimento da dinâmica comercial do local e aumento da sensação de insegurança. Também há impacto na paisagem urbana, por conta da deterioração dos imóveis, o que piora a percepção do ambiente e a qualificação urbanística do entorno, refletindo também na desvalorização imobiliária.
A situação de abandono na região central, explica a professora, não é uma questão só de Vitória, mas que atinge a maioria das capitais brasileiras e também grandes cidades de outros países. Com ruas por vezes mais esteiras e tortuosas, perfil fundiário com lotes menores, áreas de preservação e fluxo intenso de veículos, essas regiões conflitam com interesses de desenvolvimento modernos. No caso de Vitória, um dos eixos principais de deslocamento foi para a Enseada do Suá a partir da década de 90, quando depois de aterros houve disponibilização de terrenos maiores, propícios à verticalização para instalação de escritórios e residências.