Apesar de liderar rankings de desenvolvimento, Capital segue atrasada na mobilidade para pessoas periféricas
Vitória, capital do Espírito Santo, ficou em 3º lugar no eixo Mobilidade e Acessibilidade do Ranking Connected Smart Cities, que mapeia cidades brasileiras com maior potencial de desenvolvimento. Apesar de entusiasta, especialistas apontam a desigualdade territorial do município, já que no eixo Urbanismo, a cidade ficou abaixo da 100ª posição.
O fator de destaque para a Capital alcançar a 3ª posição em Mobilidade e Acessibilidade, foi a quantidade de veículos de baixa emissão de poluentes em relação ao total dos automóveis matriculados na cidade (0,12%), além da conexão interestadual rodoviária e aeroviária.
O eixo também leva em consideração a quantidade de automóveis em relação ao número de habitantes, a idade média da frota de veículos, o número de ônibus em relação aos automóveis, e a quantidade de diferentes modais de transporte de massa e de ciclovias.
Para a professora do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) Liziane Jorge, a Capital realmente tem uma acessibilidade privilegiada em relação a outros municípios da Grande Vitória, mas é preciso se atentar às desigualdades que atingem cada parte da cidade.
“É muito fácil avaliar a mobilidade com uma malha bem estruturada na área planejada da cidade, mas existe uma porcentagem da população que não tem essa acessibilidade. É preciso avaliar qual é essa qualidade do percurso que elas fazem, qual o tempo de espera em um abrigo de ônibus, qual a qualidade das calçadas “, exemplificou.
Dados divulgados no ano passado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelaram que mais de 33% dos domicílios em Vitória estavam localizados em “Aglomerados Subnormais”, espaços de ocupação irregular, onde as condições de saneamento e moradia são mais precárias. De acordo com o instituto, Vitória contava com 34,3 mil domicílios nessa situação.
A pesquisadora Clara Luiza Miranda, do mesmo Departamento da Ufes, explica que a mobilidade e acessibilidade devem ser analisadas com cautela, já que a cidade precisa ser estudada para além de um espaço físico. “A cidade é uma entidade sociológica, por isso temos que considerar outros índices, como a coesão social, por exemplo, a coesão de grupos de diferentes rendas. Em Vitória, existe defasagem gigante entre pobres e ricos”, aponta.
Urbanismo
No eixo Urbanismo, Vitória ficou localizada abaixo da 100ª posição, por isso nem foi identificada no ranking. O índice leva em consideração a Lei de Uso e Ocupação do Solo e Plano Diretor Estratégico, a Lei de Operação Urbana, o Plano Diretor Estratégico, o Alvará Provisório, as despesas com urbanismo por habitante, e a porcentagem da população em baixa e média densidade.
Para o ranking, é verificada a data de aprovação das leis no município, considerando que quanto mais novas forem, maior é o alinhamento com ideais mais modernos do conceito de desenvolvimento da cidade. “Parte desses instrumentos não são aplicados, e eles servem justamente para melhorar o assentamento, a regularização fundiária, dentre outras questões”, explica Clara Miranda.
Esse eixo também considera a porcentagem da população vivendo em densidades populacionais médias e altas, bem como o atendimento urbano de água e esgoto.
Transporte coletivo e trânsito
Outros indicadores para uma cidade mais sustentável se referem à inserção de diferentes modais de transporte e o investimento em espaços de uso misto, quando a área residencial e comercial são construídas no mesmo perímetro, evitando a necessidade de grandes deslocamentos por parte dos moradores.
Para as pesquisadoras, também é importante investir na desestimulação ao uso de automóveis, o que só é possível com um transporte coletivo de qualidade. “Os ônibus estão sempre lotados, mesmo em um contexto de pandemia, em que as pessoas precisam manter o distanciamento social”, lembra Luziane.