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Mobilidade: marca de Hartung é o cancelamento da licitação do Aquaviário

O discurso segundo o qual o Espírito Santo que Renato Casagrande (PSB) legou a Paulo Hartung (PMDB) chafurda na perdição financeira, e que legitima todas as ações e omissões do novo governo, não deixaria incólume a área de mobilidade urbana.  Menos um exemplo de ação que de omissão, o caso do Aquaviário diz muito: em 26 de janeiro, portanto com menos de um mês de governo, Hartung suspendeu o edital de licitação do sistema. 

 
Até aqui, em que pesem todas as boas intenções do Seminário de Planejamento Estratégico, trata-se esta da única ação concreta e palpável em mobilidade da nova era PH. Se, como andam dizendo, a Escola  Viva de Hartung está morrendo, em seu governo a mobilidade ainda não andou. O trocadilho é infame, mas têm seu quê de verdade, endossado pelas manifestações do governo após o seminário, realizado dias 27 e 28 de março. 
 
Em mobilidade para o coração econômico do Estado, a Região Metropolitana da Grande Vitória, foram arroladas diretrizes: implantação de intervenções urbanas no Portal do Príncipe; adequar vias de acesso e prover infraestrutura visando à implantação do BRT (vias exclusivas para ônibus); conclusão do corredor Leste-Oeste; reestruturação do projeto do Aquaviário para início da implantação; apoio à implantação de ciclovias e incentivo às prefeituras nos projetos de bicicleta compartilhada; efetivar o tema educação para o trânsito nas escolas públicas. 
 
É uma série de projetos iniciados no governo Casagrande, mas os principais – Aquaviário e BRT – são propostas do próprio Hartung, lá em seu primeiro governo, mas que saíram do papel efetivamente com o socialista.
 
Nos dias seguintes, sobrou eloquência, mas faltaram certezas. O vice-governador César Colnago (PSDB) se contorceu para explicar a fragilidade das propostas do novo governo para a área de mobilidade. Disse que reestruturar o projeto do Aquaviário é uma orientação; o problema é que entregar o sistema funcionando não é garantia. O mesmo vale para as demais diretrizes.
 
Mas, a rigor, o que acontecerá mesmo é o enxugamento dos projetos, ou como se esforçou Colnago, a reestruturação do Aquaviário e do BRT se dará “dentro de uma concepção que seja viável tocar”. As cinco linhas previstas para o Aquaviário será reduzida a uma. Qual, não foi definido. O BRT, por sua vez, foi reduzido à primeira fase. A Quarta Ponte, outro rebento da “Primeira Era PH”, aí, sim, é um projeto banido. 
 
Resultado: o que os primeiros cem dias de Hartung deixaram mesmo para a Grande Vitória em mobilidade foi a extirpação de um projeto encaminhado e palavras errando no plano das ideias. 
 
Um panorama muito diferente das palavras entoadas pelo governador na posse no Palácio Anchieta: “A ampliação, humanização e racionalização da mobilidade urbana é um ponto crucial. Mas é preciso fazer esse movimento dentro de um novo conceito de centros urbanos. Com investimentos em calçadas, ciclovias e transporte coletivo, nossas cidades devem dar prioridade às pessoas e não aos automóveis”.
 
Palavras até que bem alinhadas à moderna noção de mobilidade, sintetizada na frase “cidade para as pessoas” – título, aliás, do fundamental livro do arquiteto dinamarquês Jan Gehl. A ideia reordena a hierarquia vigente da mobilidade urbana: defende o ser humano no topo e joga o transporte individual motorizado para a base. Mas, cem dias depois de voltar ao Palácio Anchieta, o que temos do novo governador, por ora, é apenas um belo discurso de posse.

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