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Moradores criticam corte da Praça do Cauê, mas elogiam debate

Os moradores do entorno da Praça do Cauê novamente manifestaram franca oposição ao corte da Praça do Cauê, em Praia da Santa Helena, Vitória. Cerca de 150 pessoas se reuniram na noite dessa quarta-feira (22) na Escola Fernando Duarte Rabelo com representantes da Prefeitura de Vitória e do governo do Estado. 
 
Em três horas e meia de reunião, mais ou menos 30 moradores falaram ao microfone. Apenas um – uma senhora – apoiou a o projeto de abertura da praça. Foi vaiada. 
 
Solicitado pelos moradores do entorno no Gabinente Itinerante realizado no último dia 12, na Praia do Canto, o encontro discutiu especificamente o projeto de cisão da Praça do Cauê. Estavam à mesa a secretária municipal de Gestão Estratégica de Coordenação Política Lenise Loureiro, o secretário municipal de Transportes, Trânsito e Infraestrutura Urbana, Max da Mara e a subsecretária estadual de Mobilidade Urbana, Luciene Becacici
 
O prefeito de Vitória Luciano Rezende e o secretário estadual dos Transportes e Obras Públicas (Setop), Fábio Damasceno, não foram. Dessa vez, o Ministério Público Estadual (MPES) também não enviou representante. 
 
No encontro do dia 12, detectou-se um nível expressivo de rejeição à abertura da praça. Falou-se em “desinformação” e destacou-se um alarmismo dos que viam “destruição” em lugar de “revitalização”. 
 
Mas a reunião mostrou que o nível de rejeição não baixou um ponto sequer. Lenise, Max e Luciene enfrentaram um bombardeio de críticas, dúvidas, questionamentos, ironias e sarcasmos. Engenheiros e arquitetos levantaram questões técnicas. A cada crítica desferida, aplausos inundavam a sala. Por vezes, uma névoa de constrangimento anuviou os semblantes da mesa.
 
Prefeitura e governo receberam críticas. No entanto, os elogios dos moradores à realização do debate aliviaram a barra do poder municipal. O governo do Estado foi laureado com as intervenções mais contundentes. 
 
Em duas ou três ocasiões, veio à tona a licitação, concluída em maio, que contratou a Serrabetume para prestação de serviços de implantação da 1ª etapa da Praça do Cauê. A empresa foi a única que se apresentou ao certame, fato que levantou desconfianças. 
 
Alexandre Nunes questionou: “Tá ficando clara aqui a falta de transparência do projeto. Como é que faz uma licitação para depois da licitação discutir com a comunidade o que vai ser feito no local?”. Em seguida, agradeceu a PMV pelo debate.
 
Júnior Alvarenga lembrou que em junho foi assinada a ordem de serviço para a abertura da praça. A obra deveria ter sido iniciada pouco depois. Mas, numa reunião na Setop, à qual ele e outros moradores compareceram, lhe informaram que as obras só não foram iniciadas em função das manifestações. O momento não era politicamente adequado. Moradores também se sentiram agredidos com a enorme placa instalada pelo governo estadual em frente à praça, festejando a obra.
 
Ele classificou de “acinte de projeto” o desenho apresentado num telão e em papeis A4 distribuídos à audiência.
 
“Vocês falaram que não foi decidido, mas eu tô com o papel da licitação aqui. Não tá decidido, mas tá, né?”, ironizou a moradora Beatriz Barbosa. Em seguida, desferiu severas críticas a Damasceno: resgatou uma reunião de quatro anos atrás com o secretário em que este asseverou que a abertura da Reta da Penha entre o Cauê a a a Avenida Desembargador Santos Neves seria provisória. Coisa de 60 dias apenas. 
 
“Há muitos anos venho participando de reuniões com o governo do Estado e o seu Fábio Damasceno, falando que aquilo seria provisório. Então eu peço desculpa a vocês da mesa, porque fica difícil de acreditar em qualquer coisa que vocês estão falando, porque esse homem [Damasceno] realmente não fez nada do que ele falou para gente. Será que o Espírito Santo não tem pessoas capacitadas que não possam estar no lugar dele, não?”.
 
Após enunciar um irônico convite às autoridades para um cafezinho na varanda de seu apartamento, Marcio Calil justificou a generosidade: “Na verdade, existem dois horários em que há fluxo intenso: entre 7h30 e 9h e entre 18h e 19h. O resto do dia não há fluxo. Então, haverá o corte de uma praça sob a alegação de fluxo pesado intenso em dois períodos do dia”. Em seguida, propôs que representantes e representados se reunissem para achar outra solução que não o corte da praça. 
 
Max da Mata se apegou em eufemismos para defender o projeto. “Não é destruir, é valorizar o patrimônio”. Quando defendia que o projeto privilegiava pedestre e ciclistas em detrimento dos carros, ouviam-se muxoxos. A Uma moradora disse: “Acho muito difícil ter qualidade de vida com três vias de um lado e três do outro”.
 
O vínculo afetivo com a praça, obviamente, apareceu. Pedro Brandão: “Não tenho dúvida sobre as boas intenções da atual administração. Mas vi essa cidade crescer, vendo seus mangues serem aterrados, suas praias serem aterradas e agora tô vendo suas pracinhas serem destruídas. Isso me entristece um pouco”. 
 
Outro morador evocou a numerosa prole: “Tenho quatro filhos que esperam ansiosamente pelo sábado para correr e andar de bicicleta na praça”.
 
 
Uma das primeiras a intervir, Maria do Carmo trouxe uma questão pertinente: “Primeiro quero saber se isso já está definido e qual o nosso papel aqui”. Pairava no ar uma desconfiança, que mais tarde, William Brown levantou de forma mais direta: “A abertura da praça está decidida ou não?”.
 
A resposta de Max da Mata fez emergir um forte burburinho de alívio: “O que a gente está fazendo aqui é amadurecer a discussão. Não está nada decidido ainda. O corte da Praça do Cauê não está decidido”.
 
Mais adiante, o mesmo William Brown resumiu o sentimento geral: “O projeto não está agradando. Não tem como falar que a situação vai ficar melhor do jeito que está. E isso que está irritando as pessoas”. Concluiu com uma proposição: “Vamos deixar a praça por último”.
 
Logo após sua fala, veio a de Ronilse Coelho, a senhora que se posicionou abertamente ao projeto. “Adoro o movimento. Quando vim para cá, não havia movimento”. Ela recebeu vaia, mas recebeu também o corajoso apoio de Max da Mata, que elogiou e agradeceu o destemor da senhora em se colocar contra a corrente de forma tão sincera.
 
Nas entrelinhas, a intervenção de Ângela Malik lembrou que a mobilidade urbana de Vitória envolve questões de ordem metropolitana: “Vocês estão abrindo essa rua. Mas o que vocês vão fazer em Vila Velha, que não tem rua? Qual a solução: os carros entrarem na ponte e se atirarem no mar?”, alfinetou.
 
Luiz Soi agradeceu a PMV pela discussão e ofereceu algumas propostas: reurbanizar a Praça do Cauê, sem projeto viário; realização de audiências públicas para apresentar os trechos de impacto do BRT no município de Vitória; cancelamento da licitação que contemplou a Serrabetume.
 
A mensagem que a reunião passou foi límpida: os moradores não querem a abertura da Praça do Cauê.
 
''Praça vai mudar para melhor”
 
Em entrevista a Século Diário na semana passada, o prefeito de Vitória, Luciano Rezende (PPS), defendeu o projeto da Praça do Cauê. Na opinião do prefeito, aos poucos, a população está entendo que a cidade saíra ganhando com o projeto. “Muitas pessoas entraram no gabinete discordando e depois mudaram de ideia. Temos ativistas, que estão no papel legítimo de trabalhar contra essa intervenção, nós temos pessoas desinformadas e nós temos um discurso fácil de ser feito. Ninguém quer intervenção em praça, nem a prefeitura”. 
 
Luciano acrescentou que o primeiro pedido que fez aos técnicos, quando surgiu a necessidade da obra, foi a garantia de que a população receberia uma praça melhor. “Sem o projeto de uma praça melhor, não seria possível convencer ninguém”. 
 
Ainda na entrevista, o prefeito também explicou que existe uma desinformação muito grande em relação ao assunto. “A praça está próxima à Terceira Ponte, mas a decisão não tem relação com isso, tem relação com o BRT, que vai passar na Rua Duckla de Aguiar junto com os ônibus, e os carros e motos passam pela praça na direção do pedágio, isso para facilitar que lá na ponte o BRT se estabeleça com mais segurança do que juntando os dois tráfegos. Vai melhorar o tráfego da praça, mas não é esse o objetivo principal”, ressaltou.
 

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