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Moradores culpam Perim por alagamentos no bairro Garoto

A enfermeira Luiza de Fátima (foto ao lado)  lamenta, mas está deixando a casa onde morou por 25 anos, no bairro Garoto, em Vila Velha. As águas de dezembro forçaram a decisão: meio metro da parede da garagem está descascando em função da umidade. Dentro da casa, a parede da sala sofre do mesmo mal. Neste sábado (29), ela se muda para uma residência nas redondezas, mas ao abrigo da violência das chuvas. 
 
A única vez que águas pluviais invadiram sua casa foi nas chuvas de 2001 ou 2002, ela não lembra bem; de resto, as águas tomavam no máximo a rua, chamada Valdivino Vieira, mais conhecida como Rua Araçazeiro. As residências vizinhas, idem: alagamentos dentro de casa é fenômeno raro, só com muita chuva. 
 
Mas dezembro foi implacável não apenas em função do volume torrencial. Entrevistamos três dos moradores mais antigos da Araçazeiro e todos compartilham uma tese: a situação piorou após a construção do Supermercado Perim do início da Rodovia Carlos Lindemberg, na Glória. Inaugurado em outubro de 2011, o estabelecimento está visivelmente acima do nível das vias do entorno.
 
“Hoje com qualquer nuvenzinha que aparece eu fico com medo e antigamente eu nem me preocupava com isso”, diz Luiza, que recentemente retirou R$ 1 mil do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para reaver o que a chuva levou.
 
Ela vai alugar a casa e já repassou a situação aos inquilinos. Eles aceitaram. Na manhã desta quinta-feira (27) um pedreiro prosseguia com uma pequena reforma para receber os novos moradores. Falando em reforma, foi interessante notar que um pedreiro subia o nível da calçada a duas casas ao lado. 
 
A casa de Luiza está quase meio metro acima do plano da rua e ainda assim entrou água. Situação semelhante viveu a dona de casa Maria dos Anjos, que reside há 30 anos na Araçazeiro. Água entrando em casa, ela só recorda das chuvas de 2001, 2002; antes, não saíam da rua. “Hoje basta chover um pouco e já era”, diz. 
 
Agora uma placa de ferro de meio metro está fixada na porta de entrada da sala; os móveis estão suspensos. Em dezembro, a água invadiu a garagem, entrou na casa e vitimou um guarda-roupa. Maria ainda revela um agravante: uma espécie de refluxo, que, mesmo quando cessa a precipitação, traz de volta água de esgoto pelos bueiros. 
 
Ela diz ainda que sua vizinha de trás – cuja fachada fica de frente para face traseira do supermercado, para onde se dirigem os caminhões de carga – também sofreu com enchentes em dezembro. 
 

Em situação mais delicada está Isaudina Ferreira (foto acima), ou Dona Filhinha, 88 anos. Ela mora numa casa simples, de três cômodos e amplo quintal, cujo terreno se localiza entre a Araçazeiro e a Alameda Guimarães (a da face posterior do Perim).  

É Luiza quem conta que, quando chove com violência, os moradores têm de se mobilizar para socorrer Dona Filhinha, isto é, alguém é destacado para pegá-la no colo e levá-la para uma casa vizinha. “Tem até um menino que me carrega e eu digo ‘Não me carrega não, eu me sinto mal, parece que tô ruim’. Mas ele responde: ‘Mas a senhora me carregou quando eu era pequeno!’”, conta, bem humorada.

 
E assim foi em dezembro. Mesmo com a casa acima do patamar do quintal e uma mureta protegendo a estreita varanda, a água entrou e fez estrago: a senhora ficou sem guarda-roupa, colchão e roupa de cama. Como ainda não foi possível comprar um novo móvel, as roupas estão amontoadas junto à parede do quarto. Na sala, o sofá foi erguido a dois palmos do chão.
 
A história da miúda senhora se repete: antes as águas tomavam no máximo o quintal. Da última vez, a situação ficou tensa. E, segundo os moradores, pode ficar ainda mais tensa quando caírem as próximas chuvas, em função do asfaltamento da Alameda Guimarães, que está claramente acima do nível do quintal da Dona Filhinha.
 
Há cerca de um mês, a continuação da alameda, que vira Travessa das Palmeiras, foi asfaltada. Ainda balança a faixa estendida de calçada a calçada em que a comunidade agradece ao prefeito Rodney Miranda (DEM) pela obra.

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