Reconhecimento, para eles, irá ressignificar a forma como a comunidade é vista na Capital
Moradores do Território do Bem, que abriga nove bairros da região periférica de Vitória, querem que o nome da região seja reconhecido pela prefeitura. A oficialização é vista como uma forma de reconhecimento da identidade local e abandono de uma visão estereotipada da região.
Os moradores querem que o nome, já reconhecido em Vitória, também esteja nos documentos oficiais da prefeitura. Cosme Santos de Jesus, morador do bairro Jaburu e presidente do Grupo Nação, explica que a nomeação interfere até na identidade do local, que abriga os bairros Itararé, Jaburu, Bairro da Penha, Bonfim, Engenharia, Consolação, Floresta, São Benedito e Gurigica.
“A forma que a segurança estadual se reporta ao local deixa os moradores muito entristecidos, aglomerado da Penha, conglomerado, complexo (…) Infelizmente, devido à forte discriminação, as pessoas até ficam inibidas de se identificar como morador do local, devido à imagem negativa que é promovida”, declara.
Longe de ser um problema recente, essa imagem da região periférica de Vitória foi construída ao longo dos anos, muitas vezes até promovida pelo Estado. “As investidas da segurança de forma truculenta, aquele sensacionalismo, a mídia televisiva, tudo isso transfere para o imaginário das pessoas como se fosse um lugar ruim, de toda violência, o pior lugar da cidade”, aponta Cosme.
O líder comunitário explica que, informalmente, os moradores já se apresentam como um território pelo poder público. “Até devido às ações de muitos anos do Banco Bem, com o tempo, foi se chamando de Território do Bem. Agora, a gente quer que a prefeitura oficialize e reconheça isso, como alguns atores políticos já reconhecem”, destaca.
O Banco Bem foi criado em 2005, com linhas de crédito produtivo, habitacional e de consumo para os moradores da região do Território. A iniciativa comunitária apoia pequenos empreendedores, oferece cursos de qualificação e dá suporte a pessoas com restrições de crédito.
Essas e outras iniciativas de economia solidária e emancipação contribuíram para a titulação da região como Território do Bem. Uma pesquisa também foi realizada entre 2008 e 2009, com o objetivo de se fazer um diagnóstico do local.
O crescimento das mobilizações fez com que os moradores tivessem mais visibilidade e força política, explica Cosme, que também acredita que a oficialização do nome pode gerar outro olhar do poder público até mesmo no âmbito dos investimentos. “E nenhuma comunidade vai perder sua identidade de bairro ou comunidade. Todos vão continuar tendo sua associação de moradores como tem agora”, explica.
Na última quarta-feira (27), lideranças comunitárias da região se reuniram com a vereadora de Vitória Karla Coser (PT) para apresentar a demanda. Ela fez uma indicação ao Prefeito Lorenzo Pazolini (Republicanos), sugerindo a mudança.
“Desde antes mesmo de me eleger e com o início do mandato, temos conversado com os moradores da região para entender quais são as demandas. E sabe qual é um dos principais pedidos de toda a região da Poligonal 1? Que ali se chame oficialmente Território do Bem…que nas placas de ordens de serviço, nos documentos da prefeitura, fique registrado o nome do Território que tem tanta gente de luta, de paz, e que trabalha pelo bem da nossa cidade”, disse a vereadora nas redes sociais.
Karla considera que a oficialização também significa garantir a dignidade e história dos moradores da região. “Para eles, a mudança oficial do nome para Território do Bem é a ressignificação de um local que vivencia várias situações de vulnerabilidade social e que por muito tempo recebeu a pecha de ser um local ruim, mal visto pelas autoridades e por moradores de outras comunidades e bairros”, aponta.