Os moradores da periferia ajudam a construir praças e parques, mas muitas vezes não usufruem daquilo que eles ergueram, lembra Crislayne Zeferina, jovem liderança do Bairro da Penha, em Vitória. Ela é uma das responsáveis pelo abaixo-assinado com os moradores após uma assembleia comunitária para que seja instalada uma quadra poliesportiva num espaço que virou ponto viciado de lixo dentro da comunidade.
Parte da área em que moradores reivindicam a construção da quadra. Foto: Divulgação
“Esse projeto é de suma importância porque vai dar o acesso que nos foi negado por muitos anos, é uma reparação histórica”, diz Crislayne, considerando que a falta de opções de cultura, esporte e lazer ajuda a construir processos de segregação para as comunidades periféricas. A opção mais próxima é a Praça de Itararé, que possui um campo, mas que segundo ela não atende às necessidades do Bairro da Penha.
O local reivindicado é a antiga casa de uma moradora, Dona Eva, que virou ponto de depósito de lixo e possível foco de mosquito da dengue e outras enfermidades. Fica perto de uma grande área de terra próxima ao Destacamento Policial Militar (DPM) entre Bairro da Penha e São Benedito, na região mais alta.
A comunidade avançou ainda mais com a ajuda do projeto BR Cidades, que discute a questão urbana e social e fez a ponte com o grupo Célula EMAU, formado por professores e estudantes da Universidade Federal do Estado (Ufes), que desenhou voluntariamente um projeto arquitetônico para a obra.
Projeto inclui também espaços públicos de lazer. Imagem: Célula EMAU
O projeto já foi apresentado à Secretaria Municipal de Habitação e, nesta quarta-feira (5), o grupo irá se reunir com o prefeito Luciano Rezende (Cidadania) para apresentar a proposta, que segundo Crislayne Zeferina teria um custo de cerca de R$ 100 mil. “Para a prefeitura não é um custo tão alto, estamos sonhando muito com essa quadra, precisamos de espaços de lazer e entretenimento para a comunidade, especialmente para que os moradores jovens possam encontrar outras opções empregatícias fora do tráfico de drogas, já que o esporte dá acesso a vários outros espaços”, afirma a jovem.
“Quando pensamos em alternativas, pensamos em ocupar nossos becos com arte, cultura e lazer. Numa comunidade construída num processo de segregação, não se tem espaço para nossas crianças circularem e brincarem e os conflitos territoriais limitam ainda mais”, diz Crislayne, calculando que o bairro possui cerca de três mil crianças. Ela afirma que a comunidade está disposta a dialogar e fechar parcerias para que as políticas públicas possam ser efetivadas dentro das favelas.
Projeto da quadra foi elaborado voluntariamente por estudantes e arquitetos. Foto: Célula EMAU
Confira o teor do abaixo-assinado:
Nós, brasileiros e cidadãos abaixo-assinados, residentes do Bairro da Penha solicitamos a implantação de uma quadra poliesportiva no bairro supracitado, vez que não há nenhuma existente no bairro.
Há o terreno da escadaria Idalina Maria da Penha, CEP: 29047-302 – Vitória ES, que se encaixa nos padrões para a construção da referida quadra. Para tanto, será necessário desapropriação do terreno, pois este pertence a um particular.
Em nome do bem comum e na busca de garantir acesso ao lazer e esporte com segurança e dignidade, solicitamos a construção da quadra o mais breve possível.