A moto do desempregado Clebio Luis Bertoldi foi roubada na porta da sua casa, em Guarapari, em dezembro de 2013, e há um ano está largada no Pátio Central do Departamento Estadual de Trânsito (Detran-ES), na Serra, em estado lastimável. Está toda danificada, com marretadas na lataria. Na via-crúcis da busca, Bertoldi diz que já gastou cerca de R$ 500 por uma moto que hoje não vale R$ 1 mil.
É um conjunto grave de fatos relatado na sessão desta segunda-feira (31) da CPI da Máfia dos Guinchos, na Assembleia Legislativa. Mas a coisa piora. Bertoldi foi resolver um problema para um amigo no Detran-ES e, por curiosidade, pediu que a funcionária verificasse no sistema do órgão a situação de sua moto.
Informou a placa e veio a surpresa: a moto fora guinchada e estava em processo de leilão. Descobriu depois que ela fora encaminhada para o pátio Reco, em Jardim Tropical, na Serra, e daqui para o Pátio Central. Foram cinco dias procurando a moto com o auxílio dos funcionários do pátio.
O desempregado tinha nota fiscal de compra do veículo e o boletim de ocorrência. Mas a documentação de registro do estado do veículo no momento de entrada no pátio e o boletim de apreensão ele não obteve, nem no Batalhão de Polícia de Trânsito (BPTran) da Polícia Militar, nem no Detran-ES. “Ninguém responde nada, tenho três meses correndo atrás disso”, disse.
O promotor de Justiça Fabio Langa Dias, designado pelo Ministério Público Estadual (MPES) para acompanhar o trabalho da CPI, recomendou ao coordenador de Remoção de Veículos do Detran-ES, Jadir Tosta Júnior, presente à sessão, que o órgão faça o registro do estado do veículo no momento da entrada.
O presidente da CPI, deputado Enivaldo dos Anjos (PSD), foi mias incisivo: “Seu depoimento foi bom porque mostra que o sistema Detran de pátio é realmente uma bagunça e não funciona”. A CPI pôs um advogado à disposição de Bertoldi para contornar a questão.
Outro cidadão também contou sua história. No último dia 12, Gilberto Pereira da Penha teve o veículo multado e quase guinchado por um guarda municipal na Avenida Paulino Muller, Ilha de Monte Belo, em Vitória. Segundo Pereira, o guarda alegava que ele tinha estacionado a menos de cinco metros da esquina da rua. No entanto, a via não registrava sinalização horizontal ou vertical. Mesmo assim, levou multa por estacionamento irregular. A equipe da CPI vai verificar a falta de sinalização adequada no local.
A CPI também ouviu os presidentes das associações de moradores de Jardim Camburi, Anael Rodrigues Parente; de Jardim da Penha, Fabrício Pancotto; de Bento Ferreira, Paulo Roberto Marangoni; e do Centro de Vitória, Amélia da Penha Nunes; além do presidente do Conselho Popular de Vitória (CPV), Robson Willian Almeida da Costa, o Robinho da Ilha, para debater a instalação do estacionamento rotativo em Vitória.
Os representantes dos bairros relataram a presença de flanelinhas em áreas ainda não contempladas pelo sistema. Marangoni disse que Bento Ferreira, onde a atuação dos flanelinhas é destacada, já foi suscitada a instalação de parquímetros em reuniões da entidade. Mas nada foi oficializado junto à prefeitura.
Amélia da Penha Nunes disse que os parquímetros afastaram os flanelinhas e restaram os lavadores de carro. Disse também que o sistema representou melhoria para a movimentação comercial da região. Como mostramos em recente matéria, a Cidade Alta, onde não há rotativo, os estacionamentos são geridos por flanelinhas.
Os deputados aprovaram requerimento para a prorrogação da CPI, que, a princípio, expiraria em setembro.