O ex-funcionário da Petrobras, Carlos Irapuan Lube de Menezes, formalizou uma denúncia no Ministério Público Estadual (MPES) sobre o vazamento de gases tóxicos na sede da estatal, na Reta da Penha, em Vitória. Além de expor os detalhes sobre os riscos que a população vizinha estaria submetida, ele revelou que a tubulação de gás que alimenta a usina de refrigeração passa pelo parque municipal Pianista Manolo Cabral – construído na parte de trás da sede, como a contrapartida ambiental à vizinhança do empreendimento.
Na representação protocolada na última quarta-feira (11), o ex-técnico de inspeção de equipamentos da empresa narra que a legislação proíbe este tipo de construção sob locais com grande trânsito de pessoas, entre elas, muitas crianças que frequentam o local todos os dias. Segundo ele, o fato seria de conhecimento dos gestores da Petrobras, mas que seria omitido da população e dos órgãos ambientais. Na parte lateral do parque é possível ver placas que informam a existência de gasodutos enterrados.
Carlos Irapuan também denunciou que a usina responsável pela climatização de todo complexo foi construído sobre uma área de caverna, fato que também seria contra as normas vigentes. Segundo ele, em caso de vazamento de metano – um dos gases resultantes do processo de queima do gás natural –, pode ocorrer o confinamento do gás nessas cavernas, o que caracterizaria um risco iminente de explosão.
O ex-funcionário relatou que a situação teria sido omitida do Corpo de Bombeiro durante a inspeção realizado no ano de 2011. Ele relata que uma gerente teria ordenado às empreiteiras responsáveis pelas obras [Odebrecht e Camargo Corrêa] para a instalação de uma porta falsa para ocultar a área. A manobra teria o objetivo de evitar uma interdição do prédio. Carlos Irapuan também apontou que, em caso de incêndio, o sistema de combate às chamas não irá funcionar, tendo em vista que a caixa de água do local fica no subsolo e não no teto.
Desta forma, a água não conseguiria chegar aos sprinklers (tipo de “chuveirinho” que fica em paredes, acionado em sinal de calor), uma vez que o sistema utiliza um motor elétrico – em caso de incêndio, o primeiro procedimento é o desligamento da rede elétrica e de gás, relatou o ex-funcionário. “Sendo que os geradores de emergência são alimentados com o próprio suprimento de gás da unidade, que também deve ser desligado em caso de incêndio”, acrescentou.
Segundo o ex-funcionário, o Corpo de Bombeiros realizou o teste em apenas um sprinkler, que já estaria com água na linha, que seria uma tentativa de ludibriar as autoridades no entendimento do autor da denúncia. O mesmo teria ocorrido no teste das escadas de incêndio, já que durante os testes, Carlos Irapuan relata a utilização de um ventilador de grande porte para simular o funcionamento correto de escadas e portas de emergências.
Em relação aos vazamentos de gases tóxicos na atmosfera, o ex-funcionário da Petrobras também fez uma nova revelação: a falta de animais na região. Segundo ele, é muito comum encontrar pássaros e morcegos mortos ao redor da sede da empresa. Carlos Irapuan relata que a orientação da empresa era esconder e descartar todos os animais mortos devido à emissão dos gases. Ele anexou à representação as fotos de um morcego morto no gramado do local.
Além do Ministério Público, o caso deverá ser apurado pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente, conforme indicação do vereador Serjão Magalhães (PSB). Nessa quinta-feira (12), o socialista pediu ao prefeito Luciano Rezende (PPS) para que adote providências na apuração da denúncia de vazamento de gás na sede da Petrobras. Serjão destacou que a demanda também foi repassada por representante das associações de moradores da Praia do Canto, Barro Vermelho e Santa Luzia. O assunto também deve ser incluído na Comissão de Meio Ambiente da Casa.
Denúncia
No último domingo (8), o jornal Século Diário publicou uma reportagem especial com a denúncia do ex-técnico de inspeção de equipamentos da Petrobras, Carlos Irapuan Lube de Menezes, que revelou a existência de vazamentos de gases tóxicos da usina responsável pela climatização de cinco unidades da sede da estatal (foto abaixo). Segundo o advogado Ricardo José Ribeiro, que atua como representante de um ex-funcionário da estatal, os alertas feitos pelo seu cliente teriam sido ignorados pela direção da companhia.
No relatório, o ex-funcionário Carlos Irapuan aponta a emissão no ambiente externo de pelo menos quatro tipos diferentes de gases: o próprio gás natural (que não é consumido por completo pelo equipamento), monóxido de carbono, dióxido de carbono e metano. Este último que se transforma em um gás altamente explosivo em contato com o ar.
“Eles mandaram ocultar o relatório e desligaram os sensores que mediam os níveis de gás. Hoje, a população continua exposta aos mesmos riscos que foram denunciados por meu cliente há mais de dois anos. Uma prova disso é que os vizinhos da empresa sentem um forte cheiro de gás, que se assemelha ao gás de cozinha”, declarou o advogado.
Pelos cálculos do técnico de inspeção de equipamentos, que atuou na estatal entre 2008 e o final de 2012, a usina lança, pelo menos, 4,4 mil metros cúbicos de gases no ambiente externo só pela parte da manhã – quando os equipamentos funcionam a 100%. Na parte da noite, a potência do sistema é reduzida para 30%, uma vez que não existe um reservatório da água resfriada ou tampouco as máquinas podem ser paralisadas. Moradores da região confirmam que o cheiro de gás nas imediações da usina é constante.