O destacado perfil cultural do Centro de Vitória orientou a maior parte das propostas no primeiro encontro entre moradores e prefeitura, realizado na noite dessa segunda-feira (9) no auditório do Centro de Dirigentes Lojistas de Vitória (CDL), para discutir a revisão do Plano Diretor Urbano (PDU) da cidade. Na série de reuniões presenciais, que se estende até 6 de abril em cada região administrativa, os moradores poderão sugerir propostas para a Vitória dos próximos 10 anos.
Embora aberta à participação da sociedade civil, o encontro registrou baixa adesão. Cerca de 60 pessoas compareceram ao auditório. Afora moradores, havia também vereadores, secretários e funcionários da prefeitura e da Câmara. A participação reduzida, no entanto, não desqualificou o debate.
Primeiro morador a falar, o empresário do ramo turístico Weber Rocha criticou o tratamento dispensado ao setor. Um paradoxo: o Centro é a região mais rica da cidade em atrações turísticas, cujas áreas contíguas, contudo, não dispõem de locais adequados para embarque e desembarque de vans ou ônibus prestadores de serviço. Se o guia turístico insiste, corre o riso de multa pela guarda de trânsito. “Quem presta serviço, precisa de suporte”, disse.
Além de locais para estacionamento próprio para serviços turísticos, Weber apontou ainda outro problema do turismo receptivo: a ausência de hotéis de lazer. “Vitória só tem hotel para executivo”, criticou. A solução que apontou é a transformação de prédios e casarões antigos em hotéis de serviço.
Falando em prédios e casarões antigos e abandonados, o perfil da região inspirou boa quantidade de propostas para a assimilação cultural dos imóveis ociosos, que não são poucos.
Morador do Centro, o vereador Vinicius Simões propôs a disposição de imóveis públicos abandonados a empreendedores para a realização de eventos culturais. O carioca Bernardo Menegaz propôs, ao estilo do que existe em Santa Teresa (RJ), a construção de um Parque das Ruínas na região do “Castelinho da Capixaba”, aquela casa decrépita que fica às margens da Avenida Jerônimo Monteiro.
Ao sugerir a preservação do desenho urbanístico do Centro de Vitória, em função de sua importância histórica, Sandoval Zigoni, presidente da Associação de Moradores de Mata da Praia (AMPP), lembrou um dos episódios mais tristes da cidade: a demolição, nos anos 60, de um conjunto histórico de casas para a construção do Fórum de Vitória. Hoje o fórum está de saída do Centro para se reerguido na Ilha do Príncipe. A Cidade Alta deve ganhar mais um prédio abandonado.
O morador Everton Martins chamou atenção para os armazéns da Codesa. “Que nenhum tipo de projeto, de interesse econômico, possa demolir aquele prédio”, pediu. Como se sabe, a histórica edificação pode virar estação do sistema BRT (vias exclusivas para ônibus). Na gestão João Coser, o armazém 5 da Codesa experimentou uma fase cultural exuberante. A gestão Luciano Rezende ignorou esse potencial por completo.
O fotógrafo e produtor audiovisual Igor Pontini também lembrou os armazéns. “O Centro está de costas para o Porto”, disse, razão pela qual sugeriu a ocupação dos armazéns. Outra sugestão é o calçamento com paralelepípedo da Rua Gama Rosa, que, em função dos bares e restaurantes que concentra, ostenta movimento noturno fervilhante. A ideia é frear a velocidade dos carros para humanizar o trânsito na via.