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ObituárioMorre Pedro Maia (1940-2014)

O jornalismo capixaba perdeu hoje (5) uma de suas expressões mais importantes. Com mais de meio século de carreira, a história de vida de Pedro Maia se confunde com a do jornalismo no Espírito Santo. Pedro Maia morreu na manhã desta quarta-feira (5) em decorrência de falência múltipla dos órgãos. O jornalista estava internado em estado grave havia três semanas no Hospital Vila Velha.
 
 
Nascido em 10 de agosto de 1940, em Campos dos Goytacazes, estado do Rio de Janeiro, Pedro Maia fez história no Espírito Santo. Iniciou a carreira como contínuo no jornal O Diário, em uma época em que o jornalismo era assumidamente partidário. Em 1959, começou a se aventurar na redação, já que era costumava a passar pela antiga Chefatura de Polícia, no Centro de Vitória, no retorno das obrigações como contínuo. Daí se iniciava a longa carreira de Pedro Maia no jornalismo do Estado, sobretudo na crônica policial.
 
 
Em 1963, foi para o Rio de Janeiro, retornando ao Estado em 1967 para trabalhar em A Tribuna. Integrando a editoria de Polícia do jornal, Pedro Maia fez a cobertura histórica do Esquadrão da Morte, iniciada em 1969. Nos quatro anos seguintes, a cobertura policial se concentrou no Esquadrão da Morte, um grupo formado por policiais civis que, agindo como justiceiros, caçavam e eliminavam bandidos, sem que eles fossem levados à Justiça.
 
Pedro Maia acompanhou o primeiro grande fato envolvendo o esquadrão: o encontro de 11 cadáveres que foram desenterrados na Barra do Jucu, todos eliminados pelo Esquadrão da Morte. Nesta cobertura, Pedro Maia foi auxiliado Ewerton Montenegro Guimarães (também falecido), que, em 1976, lançou o livro “A Chancela do Crime”, que explicitou o funcionamento do esquadrão.
 
Por conta da memorável cobertura do Esquadrão da Morte, Pedro Maia virou referência no tema policial do Estado. A cobertura do caso Araceli também sacramentou o nome de Pedro Maia na crônica policial. Em 18 de maio de 1973, o corpo da menina Araceli Cabrera Crespo, então com 8 anos, foi encontrado com sinais de tortura e violência sexual. O caso chocou a população capixaba e entrou para o noticiário nacional. Em memória de Araceli, o dia 18 de maio foi instituído como o Dia Nacional de Luta contra o Abuso e a Exploração Sexual.
 
Pedro Maia também era um conhecido boêmio, frequentador dos bares e boates do Centro de Vitória e das imediações da Grande Vitória. Trabalho e boemia sem complementavam e também enriqueciam a cobertura dos fatos da cidade.
 
Por ter desvendado o caso do delegado de Polícia Civil Ruvalter Fragoso, em meados dos anos 1970, Pedro Maia entrou chamou a atenção da imprensa nacional. O delegado Ruvalter era titular da Delegacia de Furtos e Roubos de Veículos e também chefiava uma quadrilha de roubo de carros.
 
A cobertura de Pedro Maia ganhou a imprensa nacional e o jornalista Nilo Martins (falecido, em 2009) destacou Octávio Ribeiro – o Pena Branca – para também investigar o caso. Os dois se tornaram amicíssimos e assíduos frequentadores de Carapeba – região em que hoje é o bairro de Novo Horizonte, na Serra – conhecida zona de meretrício da Grande Vitória.
 
As vindas de Pena Branca ao Estado eram tão recorrentes que ele vendeu a Mino Carta – que estava fundando a revista Istoé, em 1976 – uma matéria que retratava o “duelo” de dois repórteres (ele mesmo, e Pedro Maia) na Boate Atlântica, expoente do lugar, frequentado por “policiais, comerciantes, bandidos e mundanas”, como relata Pena Branca na reportagem “Um duelo no submundo de Vitória” , veiculada na edição número 2 da Istoé, de junho de 1976.
 
Pedro Maia se manteve na cobertura diária até meados dos anos 1990, quando, ainda em A Tribuna passou a assinar a coluna Cidade Aberta, de crônicas sobre o cotidiano capixaba. Há mais de duas décadas adotou a Barra do Jucu como refúgio, e o bucólico vilarejo de Vila Velha é personagem de diversas crônicas do repórter.
 
No início dos anos 2000, entrou para o jornalismo eletrônico, como colunista de Século Diário. No entanto, a pedido da direção de A Tribuna, deixou de escrever no jornal eletrônico.
 
Pedro Maia começou a ter problemas cardíacos há aproximadamente três anos, mas não foi operado, por conta da capacidade pulmonar reduzida. Após uma pequena melhora, o quadro voltou a se agravar e, no início de 2014, foi internado novamente com quadro de cirrose hepática. Mesmo combalido, continuou a escrever até às vésperas da internação.
 
O jornalista deixa dois filhos, Alexandre e André Maia. Foi casado por 30 anos com Lucia Villas Bôas Maia, de quem continuou amigo, mesmo com a separação. 
 
Amigos contam que era um homem de coração maravilhoso, grande companheiro, solidário e uma pessoa admirável. Pedro Maia foi na tarde desta quarta-feira (5), no cemitério Parque da Paz, na Ponta da Fruta, em Vila Velha.. 

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