domingo, novembro 24, 2024
22.1 C
Vitória
domingo, novembro 24, 2024
domingo, novembro 24, 2024

Leia Também:

​Paneleiras de Goiabeiras organizam ato contra empreendimento

Loteamento no Vale do Mulembá, onde ocorre extração de barro para fazer panelas, preocupa detentoras do ofício em Vitória

Há algum tempo, as Paneleiras de Goiabeiras vêm manifestando preocupação com a possibilidade de construção de um condomínio que pode impactar a extração do barro, que é matéria-prima para produção de um dos principais símbolos do Espírito Santo, as panelas de barro. No próximo sábado (30), será realizada a terceira reunião da comunidade sobre o tema, que deve definir uma data para a realização de um ato para dar visibilidade à questão.

Panelas de barro em processo de produção no Galpão das Paneleiras. Foto: Leonardo Sá

O Ofício das Paneleiras de Goiabeiras, que envolve os saberes e técnicas tradicionais de preparo da panela, foi o primeiro bem imaterial a ser tombado no Brasil, em 2002, tendo sido recentemente revalidado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). No caso delas, o processo de produção da panela de barro, recipiente fundamental para outro patrimônio imaterial do Estado, que é a moqueca capixaba, inicia-se com a extração do barro, que tem origem exclusivamente no Vale do Mulembá. É nesta região que está planejado o loteamento Lagoa Mulembá, em processo de licenciamento ambiental.

Devido à possibilidade de impacto negativo para o bem cultural, o Iphan solicitou ao empreendimento a elaboração de um Relatório de Avaliação de Impacto ao Patrimônio Imaterial, motivo pelo qual a equipe de pesquisa vem tentando contato com as Paneleiras, que têm mostrado preocupação em relação ao empreendimento planejado. “Nós não vamos ficar para sempre, tem uma geração que vem para dar continuidade. Sem barro, não se faz panela”, diz Berenícia Correia, ex-presidente e atual secretária da Associação das Paneleiras de Goiabeiras, preocupada com o futuro do bem imaterial.

Processo final de limpeza e preparação do barro. Foto: Leonardo Sá

Chamada por elas de Pedreira do Rio Doce, também conhecida como Pedreira de Joana D’Arc, pelo bairro em que está situado, a formação rochosa que faz parte do Vale do Mulembá é um ponto de referência geográfico importante para as paneleiras. É atrás dela que se realiza a extração do barro, feita atualmente por poucos “tiradores de barro”, homens aptos e autorizados para entrada no local e realização da atividade, que é pesada e feita de forma artesanal. Eles preparam as bolas de barro que depois de limpas são vendidas para as paneleiras transformarem em artefatos diversos, como panelas, bandejas, vasos, canecas e outros utensílios, vendidos sobretudo no próprio galpão localizado em Goiabeiras.

A região do empreendimento é privada, mas está próxima do Parque Natural Municipal Vale do Mulembá, que foi reaberto em 2021 após anos fechado para o público.

Mais Lidas