“O Espírito Santo tem uma história fantástica, com acontecimentos impressionantes e curiosidades capazes de deixar qualquer um interessado em saber mais. Infelizmente, essa história muitas vezes fica presa ao mundo acadêmico e não chega ao capixaba comum”, diz Fabio Reis, doutor em História e criador do História Capixaba, um portal especializado no tema.
Além de conter uma série de imagens históricas, mapas, textos, documentos e uma loja online, o projeto tem apostado numa ferramenta cada vez mais popular, o podcast, que Fabio entende como uma reinvenção da rádio, por isso, com um potencial grande para alcançar as pessoas, podendo ser ouvido a caminho do trabalho, fazendo faxina, lavando louça, enfim, em vários momentos do dia a dia.
“O retorno tem sido muito positivo. Várias pessoas nos enviam mensagens comentando as curiosidades apresentadas nos episódios, e muitos nos sugerem novos temas ou outros historiadores para entrevistarmos, o que mostra que há um interesse em saber mais sobre a História do Espírito Santo”.
Nos episódios já publicados, aparecem temas como a Igreja do Rosário, a moqueca capixaba, as mulheres na política, escravidão, periferias, piratas e tesouros, sempre em perspectiva histórica e com convidados especialistas.
“As monografias, dissertações e teses são escritas de uma maneira difícil, acadêmica, e os historiadores têm dificuldade de publicar seus livros e fazer suas pesquisas chegarem ao público geral. Nosso podcast surgiu para tentar resolver este problema. Queremos pesquisas relevantes, mas não ser um evento acadêmico, de linguagem complicada”, explica Fabio, que busca apresentar os programas e conduzir as entrevistas de forma descontraída e até divertida, sempre em companhia de Ricardo Nespoli, podcaster, estudante de história e “a pessoa mais engraçada desse mundo”, como costuma ser apresentado nos episódios.
O programa se divide basicamente em quatro blocos: o Rockstar, em que o convidado se apresenta; o Tá Ligado, onde conta mais sobre a pesquisa acadêmica; o Babado Histórico, que traz um fato da História Capixaba pouco conhecido do público; e o Dicas Imperdíveis, em que o convidado dá dicas sobre o Espírito Santo, como coisas a fazer, lugares a visitar e livros para ler.
O programa começou para satisfazer a própria curiosidade dos apresentadores sobre a história do Espírito Santo e eles gravaram episódios antes do lançamento do podcast, momento em que passaram a interagir com o público e ouvir suas sugestões. Devido à pandemia, as gravações são feitas pela internet, com cada um de sua casa, o que também facilita na hora de trazer alguns dos convidados, que nem sempre moram perto. Já foram entrevistados historiadores e professores da Universidade Federal do Estado (Ufes), Instituto Federal do Estado (Ifes), Faculdade de Ensino Superior de Linhares (Faceli) e até do Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro, todos pesquisadores da história do Espírito Santo.
“Nossas dificuldades principais estão mesmo em chegar até as pessoas e garantir que estamos entregando um conteúdo com qualidade técnica. Sem um apoio ou investimento, esse se torna um trabalho de formiguinha, mas aos poucos vamos aumentando nosso público e melhorando nossos equipamentos, para que possamos entregar episódios ainda melhores”, conta Fabio sobre o processo de produção e desenvolvimento do programa. A periodicidade é quinzenal, havendo eventualmente algumas pílulas bônus entre um e outro episódio.
Segundo os podcasters, o programa exige bastante tempo para pesquisa, gravação, edição, divulgação e acompanhamento nas redes sociais, para que tenha maior repercussão. Porém, não conta com patrocinadores, de modo que como muitos podcasts, o História Capixaba possui uma campanha para receber doações voluntárias dos ouvintes para ajudar na sua manutenção, o que pode ser feito pelo site http://historiacapixaba.com/podcast/.
“Para o ano que vem, queremos manter nossa periodicidade e trazer novos temas, e fazer uma pesquisa com os ouvintes para saber melhor o que eles querem ouvir, para podermos ir atrás”, adianta Fabio Reis.
Apesar de terem visões e trajetórias um pouco diferentes, Fabio e Ricardo convergem na necessidade de valorizar a história e memória dos capixabas. Num dos episódios, a historiadora Ana Gláucia Oliveira Motta fala sobre a dificuldade em preservar os patrimônios históricos de Vitória. “Muitas vezes, nem os moradores conhecem os monumentos. Se nem a comunidade local conhece, como é que vamos protegê-los e mantê-los?”, questiona Fabio. “É preciso chegar até as pessoas e ensinar a importância da preservação e da divulgação. Quanto mais falamos e valorizamos nossa história, mais ela será conhecida e respeitada”, avalia.