Mesmo o temido período das chuvas se avizinhando de Vila Velha, a prefeitura preferiu se omitir da audiência pública para debater os alagamentos na cidade. Ninguém entendeu a ausência do poder municipal no encontro sobre um tema tão caro à população canela-verde – sobretudo após o trágico dezembro de 2013, para os moradores e para o prefeito Rodney Miranda (DEM), que preferiu viajar a cuidar da cidade.
“Será medo de não ter o que apresentar”, questionou o vereador Arnaldinho Borgo (SDD), proponente da audiência publica realizada na noite dessa quinta-feira (9) na Câmara Municipal, na Prainha. Esperava-se que a prefeitura apresentasse ações que esteja desenvolvendo contra alagamentos. Tal era o objetivo da audiência. Resultado: perguntas, de componentes da mesa e moradores, ficaram sem resposta.
Dona Ivone moradora de Praia das Gaivotas, relembrou o sofrimento que ela, sua família e seus vizinhos amargaram em dezembro de 2013. “Gostaria de perguntar ao prefeito se ele passou o Natal debaixo d’água? Nós tínhamos idosos, crianças. Não foi um deputado, um prefeito, para ver como a gente estava. Nós vamos passar mais um Natal embaixo d’água?”.
Ao ínicio, falou Petrus Lopes, do Instituto Jacarenema. Foi outro eu lembrou a atabalhoada ação da prefeitura, para contornar o estrago da viagem de Rodney, abrindo uma calha na área da Reserva Natural Jacarenema. “Tinha estudos, soluções, mas a prefeitura sempre desligava o telefone na nossa cara”.
Ele também apontou uma solução para Jockey Itaparica, bairro abaixo do nível do mar e que, em momento de severa precipitação, sempre recebe águas pluviais e do Rio Jucu: criar uma área para abrigar as águas excedentes. “O conhecimento científico pode ajudar Vila Velha. Infelizmente, isso está passando longe da atual gestão da Prefeitura de Vila Velha”, criticou.
O tenente-coronel Felipe, do Corpo de Bombeiros, destacou as ações de prevenção cntra as enchentes. Destacou também a importância da presença de um prefeito nos momentos críticos. “Quando um prefeito está junto, a resposta à crise é muito mais rápida”. Ao fim, também lamentou a ausência da prefeitura: “É uma pena que a prefeitura não esteja presente para esclarecer o que tem sido feito”.
O toque de ironia da audiência ficou por conta da participação do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado do Espírito Santo (Sinduscon-ES). O diretor de Desenvolvimento Urbano da entidade, Douglas Vaz, disse: “Nos colocamos à disposição para participar dessa discussão”. Como mostra a história de Vila Velha, o crescimento desordenado do município se deve muito à atuação predatória das indústrias do ramo imobiliário e não só “às pessoas que fizeram algumas invasões porque Vila Velha e bonita e gostosa de morar”, como disse o representante do Sinduscon.
Rogério Bazani, morador de Parque das Gaivotas há 14 anos, membro da Comissão de Lutas Contra Alagamentos de Vila Velha, foi quem mais levantou questões: Por que não foram realizadas dragagens nos canais? Ele deu o exemplo de uma draga colocada no Canal Guaranhuns mas, não funcionou, porque o contrato tinha expirado. Quais os valores gastos com contratos emergenciais e quais as empresas contratadas? Esta ficou sem resposta. Como é feita a fiscalização de afastamento mínimo em contruções à beira de canais? Ele mesmo respondeu: “Não tem”, mostrando uma foto no telão logo a seguir. “Não tem crescimento desordenado. É porque a prefeitura deixa”.