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Projeto recupera memória de lutas camponesas em Cotaxé

VI Seminário de Humanidades acontecerá em novembro, em formato híbrido, no distrito localizado em Ecoporanga

Uma importante parte da história da resistência camponesa no Espírito Santo passa pela localidade de Cotaxé, um pequeno e tranquilo distrito de Ecoporanga, no noroeste do Estado, na região que foi chamada anteriormente de Contestado, por conta dos conflitos entre o Estado capixaba e Minas Gerais em tornos da divisa e dos tributos devidos pelos moradores do entorno.

As histórias de enfrentamentos entre posseiros e latifundiários ficaram por muito tempo esquecidas e permeadas por alguns mitos. Nos últimos anos, novas pesquisas e a criação do Seminário de Humanidades de Cotaxé tem ajudado a entender melhor o que foram esses conflitos e a preservar a memória em torno da história da região.

Entre 12 e 15 de novembro de 2021, acontece a sexta edição do seminário, de forma híbrida, com o tema “Cotaxé: Histórias, Diversidade e Recursos Hídricos”. A programação terá mesas redondas, apresentações culturais, oficinas e exibição de filmes, com parte dela transmitida pela página Memória Cotaxé no Instagram.

Pequeno distrito de Ecoporanga, Cotaxé foi epicentro de revoltas camponesas. Foto: Divulgação

A mesa mais importante no que se refere à história do local trará como tema “O Contestado Capixaba e os Conflitos Pela Posse da Terra em Cotaxé e Região”, com palestras de Élio Ramires, mestre em História pela Universidade Federal do Estado (Ufes), Victor Lage, mestre em História pela Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) e Ueber de Oliveira, professor de História da Ufes. Na atividade também serão lançados os livros O Contestado Capixaba, organizado pelos integrantes da mesa, e Palavras do Cotaxé: Relatos Sobre os Seminários das Humanidades, que apresenta diversos materiais produzidos por participantes de edições anteriores do seminário, organizados por Vander Costa.

O Seminário de Humanidades teve sua primeira fagulha acesa em 2009, quando Vander Costa, filósofo e poeta nascido em Ecoporanga, e seu amigo historiador Márcio Morais decidiram realizar uma caminhada pela região em busca de entender melhor a história do local. “O Márcio propôs inicialmente um seminário de História, mas logo pensamos em chamar de Seminário de Humanidades, que seria mais abrangente. Fomos juntando material e também estimulando pessoas a produzirem outros materiais a partir da experiência do seminário”, conta Vander. A primeira edição aconteceu em 2013 e a última em 2017, sendo que outras atividades derivadas socioambientais e culturais ainda ocorreram a partir das articulações do seminário desde então.

Em 2019, o projeto foi contemplado no edital de Ponto de Memória da Secretaria de Estado da Cultura (Secult), porém, a realização das atividades tiveram que ser adiadas por conta da pandemia de Covid-19. “O ponto de memória é sempre algo em construção. Não necessariamente é um ponto fixo. Temos muito material que reunimos em nossa página na internet, vamos juntando e criando arquivos dentro de uma visão de museologia social, a partir do conhecimento que adquirimos. Queremos que cada vez mais pessoas conheçam a história dos enfrentamentos pela posse da terra e dos massacres ocorridos em Ecoporanga, numa luta camponesa que entendo como uma das mais importantes do Espírito Santo”, comenta Vander Costa.

No site Memória Camponesa Cotaxé, é possível encontrar textos, crônicas, artigos e teses acadêmicas, fotografias, vídeos e outros registros sobre a história de Cotaxé e o Seminário de Humanidades. Como se pode observar nas fotos e também na programação, ao contrário do que possa sugerir seu nome, o evento passa longe de ter um caráter meramente acadêmico, promovendo atividades de celebração e confraternização, incluindo ações lúdicas e educativa com crianças e jovens e apresentações de grupos de cultura popular e artistas locais e visitantes.

O coordenador do Seminário de Humanidades aponta a necessidade de o município de Ecoporanga valorizar sua história e construir museus e espaços de memória sobre a luta camponesa, os tropeiros e o meio ambiente, de forma que permitam refletir não só sobre o passado, mas especialmente sobre o presente e projetos de futuro.

“Na minha opinião, é um feito importante para nossa história, porque ali de fato houve um movimento organizado e a ousadia dos camponeses de se levantar contra toda aquela opressão. A partir dessa história de resistência, podemos pensar um projeto de desenvolvimento para Cotaxé, para Ecoporanga, e para além de lá. Um projeto para valorização de uma cultura diferente, de um meio ambiente preservado, da juventude. O seminário, dentro de seus limites, nos coloca para pensar um modelo de desenvolvimento diferenciado, não só do ponto de vista local, mas também nacional e global. De forma modesta, busca contribuir para uma construção coletiva”, aponta Vander Costa.

Confira a programação do VI Seminário de Humanidades, que poderá ser acompanhado também pelo Instagram

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