Entidades acusam prefeitura de se apropriar de evento realizado há anos por moradores de Pontal do Ipiranga
Evento tradicional na programação de verão de Pontal do Ipiranga, no litoral de Linhares, o Luau Elétrico corre risco de não acontecer. O fato, fruto de desentendimentos com a secretaria de Cultura, Turismo, Esporte e Lazer, vem gerando polêmica e uma série de cartas de repúdio enviadas ao prefeito Bruno Marianelli (Republicanos). Foi criado por moradores da própria localidade para proporcionar programação cultural no meio da semana, às quartas-feiras de janeiro, já que as atividades das prefeitura se restringiam ao fim de semana. O evento, que teve sua última edição em 2019 por conta da pandemia, chegava a reunir cerca de seis mil pessoas, segundo os organizadores.
A indignação das entidades que assinam a carta de repúdio, como as associações de moradores e pescadores de Pontal do Ipiranga, a Comissão Local de Atingidos e grupos de Pontal, e outros balneários como Regência e Povoação, se volta contra o secretário municipal Fabricio Lopes, responsável pela área de cultura, já que ao invés de apoiar o evento fomentado por produtores e artistas locais com 16 edições realizadas, sendo seis delas com apoio da prefeitura, a secretaria lançou um evento próprio na quinta-feira no mesmo local do tradicional luau.
“Repudiamos qualquer ação que tente ou possa apagar, boicotar, menosprezar, desrespeitar a cultura e arte de uma comunidade”, diz a nota de repúdio que alega que poucos dias antes do evento o secretário “deixou de apoiar a cultura, a arte, os artistas, as tradições, a história e os costumes da comunidade de Pontal do Ipiranga para para apoiar seu próprio evento”, fazendo referência ao evento Estação Pontal, que estreia 5 de janeiro tendo como atrações Renato Casanova, Felipe Fantin e Glauco.
O evento era tradicionalmente comandado pelo artista e produtor cultural Preto Pires, morador de Pontal, que convidava artistas locais e regionais a cada edição, com apoio da prefeitura e iniciativa privada. “A gente sempre buscou trazer artistas e bandas de dentro da comunidade, da região de Linhares e pessoas que frequentam o balneário, que às vezes não têm documentação ou peso para ser atração num trio ou num palco. Temos músicas próprias que homenageiam o próprio luau, a moradores importantes da região que já faleceram”, alega Preto.
O Conselho Municipal de Cultura (Comcult) também se manifestou ao prefeito considerando que o evento “se destaca como uma porta de divulgação das raízes culturais do local”. O artista considera também que a comunidade deseja um público como o trazido pelo luau, que movimenta o perfil de turista mais comum por lá, de famílias, que gostam de praias e mantém uma postura respeitosa com os moradores e de cuidado com a natureza, o que nem sempre acontece quando há shows de maior porte.
Preto Pires conta que os realizadores foram surpreendidos no dia 19 de dezembro, quando o secretário propôs que das quatro edições do mês, duas delas fossem realizadas pela prefeitura, o que foi negado pelo Luau Elétrico, que sempre ocupou semanalmente o mês de janeiro. Sem acordo, a prefeitura de Linhares divulgou junto a sua programação de fim de semana o projeto Luau Estação Pontal, para acontecer às quintas-feiras, e que virou apenas Estação Pontal após receber críticas por plagiar o nome do evento antigo, o que tem causado confusão na comunidade. A utilização do mesmo local tradicional do luau, que é diferente do lugar de realização dos shows do final de semana, e o uso de imagens do Luau Elétrico nas divulgações da prefeitura causou ainda mais indignação.
As postagens da prefeitura em suas redes sociais sobre a programação, divulgada menos de uma semana antes do início dos eventos, gerou uma série de comentários de moradores, turistas e entidades perguntando sobre a realização do Luau Elétrico, sendo que o perfil do próprio município respondeu como se a atividade da prefeitura fosse o mesmo evento que o realizado pela comunidade. O tema foi parar também na Câmara de Vereadores do município, onde os legisladores Urbano D´Ávila (PTB), que é músico, e Juninho Bugio (PV), morador de Pontal, clamaram ao prefeito que olhasse pela situação e respeitasse o evento tradicional da comunidade.
Preto Pires alega sugeriu que o evento de quinta-feira fosse realizado pela prefeitura em outra localidade do bairro, já que outros espaços também precisam de movimento, enquanto se mantivesse a praia para o luau, com seu formato tradicional. Agora, com o ano já iniciado, o artista enxerga com dificuldade a realização do evento como costumava acontecer.
Em contrapartida, além de reivindicar que o evento volte a ser realizado como costumava ser antes da pandemia, os organizadores do Luau Elétrico pedem que seja dado espaço ao evento para acontecer junto à programação do dia 20 de janeiro, em que a atração principal será Jammil, de renome nacional, como forma de dar alguma visibilidade para o projeto.