Não houve escapatória. O arrocho que não veio com o Integra Vitória, o frustrado projeto de remodelação do sistema municipal de transporte da capital, veio com o aumento da passagem e a redução de frota dos ônibus. Há mais de um mês, passageiros de Vitória reclamam de demora de ônibus e superlotação, efeitos diretos de uma estratégia clara de redução de frota.
Anunciado em outubro do ano passado, o projeto Integra Vitória foi apresentado sob o discurso de redefinição de um modelo de transporte sustentado pela lógica da integração. Na superfície, tal era a explicação; por dentro, nada havia, a prefeitura não apresentou razões técnicas e econômicas para a implantação do projeto. A população não engoliu: a confusão se estabeleceu, os atrasos se repetiram, as críticas explodiram.
O que de fato estava em curso era uma política de redução de custos das empresas. O Sindicato das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do Espírito Santo (Setpes) defendia o projeto com o argumento da otimização do sistema, velho eufemismo para redução de custos. Com extinção de linhas e integração do sistema, as empresas economizariam em gasolina e manutenção dos veículos. Cerca de 10 dias depois, o projeto foi cancelado pela Prefeitura de Vitória.
O caso, agora, é de um esforço explícito de contenção de gastos. O primeiro golpe sofrido pelos passageiros veio em janeiro com o reajuste de 12,5% das tarifas, que saltou de R$ 2,40 para R$ 2,70. Não foi preciso um mês para a população perceber que estava pagando mais por um serviço pior: o fim do período de férias em fevereiro não foi acompanhado pela normalização do quadro de horários dos ônibus. Aqui passagem mais cara e serviço pior se juntaram na prática.
É claro que a gestão de custos faz parte da administração do sistema de transporte: um bom sistema depende de uma boa gestão de custos. O problema é quando a gestão de custos redunda na degradação da qualidade do serviço prestado.
Este parece ser o objetivo das empresas concessionárias e da Prefeitura de Vitória: a redução de custos não como meio para melhorar qualidade do serviço, mas como um fim em si mesmo. Estratégia pura e simples para aumento da margem de lucro. Como se vê nas ruas, os usuários ficaram de fora da decisão; para eles, restaram a demora nos pontos e a superlotação dos ônibus.
No início do mês, a Secretaria de Transportes, Trânsito e Infraestrutura Urbana (Setran) explicou que a redução da frota foi decisão das empresas concessionárias tomada à sua revelia, posicionamento que expôs a fiscalização deficiente da secretaria. As empresas foram multadas e a Setran garante que está fiscalizando o serviço. Não é o que diz as ruas: os problemas da demora e da superlotação dos ônibus de Vitória persistem.