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Reintegração na Serra: PM chegou na noite anterior para intimidar famílias

Ainda eram cerca de 23h de segunda-feira (14) quando destacamentos da Polícia Militar (PMES) se posicionaram próximos à Ocupação Bela Vista, embora a ação de reintegração de posse do terreno estivesse marcada apenas para as 7h30 de terça-feira (15). O recado intimidatório, ali, foi claro. Às 5h, quando os policiais se aproximaram da ocupação, ficou ainda mais claro.
 
Cerca de 350 famílias deixaram o amplo terreno localizado em Nova Almeida, na Serra. Não houve violência extrema, com uso de bombas de gás lacrimogênio e spray de pimenta. Um policial, no entanto, agrediu uma mulher grávida, que desmaiou. Tratores destruindo as cerca de 50 casas de alvenaria de famílias sem moradia própria protagonizaram cenas tristes. 
 
Naquela ocasião desespero, no entanto, nada foi mais triste que a omissão da família Alcuri, proprietária do terreno, que descumpriu o acordo firmado em reunião preparatória à reintegração com participação dos ocupantes e de representantes da PMES. O acordo estabeleceu que a família disponibilizaria caminhões para o transporte dos bens das famílias durante todo o dia. 
 
A partir das 14h, no entanto, o serviço foi suspenso. Pior: ocupantes garantem que os proprietários do terreno contrataram os homens que, munidos de galões com líquido inflamável, atearam fogo nos pertences das famílias. “Eles começaram a colocar fogo nas coisas das famílias. Estou atordoada, porque não tivemos apoio nenhum, nem da Prefeitura da Sera, nem de ninguém. Não deixaram as pessoas retirarem suas coisas”, conta a ocupante Marluce Abade. 
 
Ela conta que algumas famílias passaram a noite em Manguinhos e nesta quarta-feira (16), acompanhadas de guardas particulares contratados pelos donos do terreno, foram recuperar os bens que deixaram para trás na urgência do dia anterior.
 
Membro das Brigadas Populares – Espírito Santo, organização que acompanha ocupações de luta por moradia na Grande Vitória, João Alexandre Wyatt, conta que as famílias ficaram abaladas. “Foi uma situação de choque”, diz ele, que testemunhou a agressão do policial à grávida. Ele conta também que um homem talhou o pé ao pisar em um prego durante a correria para recolher os pertences.
 
“Muita gente perdeu muita coisa exatamente porque queimaram e tratoraram tudo”, diz. Em seguida, destaca a ausência de função social da área ocupada. “Estamos falando de um terreno abandonado há 20 anos que funcionava como lixão”. 

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