A oitava edição do movimento “Não é por 20 centavos, é por direitos ES” tinha tudo para acabar na paz, não fosse, mais uma vez, a ação truculenta da polícia, que quis dar aos manifestantes uma prova de autoritarismo.
A reportagem de Século Diário, que fez a cobertura do protesto desde as 17 horas, não registrou um único ato de vandalismo durante a marcha, que partiu por volta das 19h00 da Avenida Mascarenhas de Moraes, em frente ao prédio do Diário Oficial, em direção à Rede Gazeta, local onde aconteceria o ato principal.
Depois de passarem 15 minutos gritando palavras de ordem contra o grupo de comunicação capixaba, que é afiliado à Rede Globo, e lançando aviõezinhos de papel em direção ao prédio da Gazeta, os manifestantes abriram uma discussão para debater os rumos do protesto. O local escolhido foi o Centro de Convenções Vitória, onde supostamente estaria o governador Renato Casagrande.
Se o governador estava ou não no evento ninguém do grupo pôde conferir. A “ratoeira” armada pelos policiais, na proximidade do Hospital da Polícia Militar (HPM), na Avenida Joubert de Barros, deixou os manifestantes encurralados. Neste momento, a polícia iniciou uma operação pente-fino, fazendo uma revista completa nos pertences e corpos dos manifestantes.
“Nada justificou a ação da polícia. O protesto era pacífico. Não houve nenhum registro de violência. Por isso a ação truculenta da polícia em colocar todos sentados no asfalto e sair revistando um por um pegou todo mundo de surpresa”, afirma Flávia Bernardes.
No momento da revista, a repórter conta que se identificou à polícia como jornalista. Mostrou a crachá e disse que estava fazendo a cobertura do protesto. Foi ignorada. Uma PM foi destacada para revistar a jornalista.
“Não estava usando máscara, pelo contrário, estava com o crachá com uma foto bem visível no pescoço identificando a minha função. Tentei argumentar que outros profissionais de imprensa não estavam sentados no chão. Queria apenas me juntar a eles e terminar o meu trabalho. Fui cerceada do meu direito de trabalhar”.
Flávia Bernardes se referia à repórter de um jornal que não foi revistada pela polícia nem obrigada a se sentar no asfalto.
Segundo a jornalista de Século Diário, não houve diálogo com a polícia. Antes de dar início ao ato vexatório, o oficial que comandava a “batida” agradeceu a compreensão de todos e disse que ninguém tinha com que se preocupar: “Será apenas uma revista”, explicou.
“Eu tinha com que me preocupar. Estava encurralada em uma rua com um batalhão de policiais. Havia polícia à esquerda, à direita, em frente e atrás de mim, sem que eu entendesse o objetivo daquela ação. Na hora você não sabe se os policiais vão sair marchando em sua direção atrás de escudos e capacetes lançando bombas e atirando balas de borracha”.
Sem escolha, a repórter permaneceu entregue a Deus dará. “Fiquei sentada no meio da rua, como se fosse manifestantes, igualmente indignada com a situação, aguardando para tomar um sacolejo. Em outras palavras, me preparando para pior. ‘Pernas afastadas. Mais afastadas, por favor, senhora’, pediu a policial dando um biquinho nos meus pés com sua botina. Mão na cabeça, mão pra cá, mão pra lá, e, finalmente, um ‘pode ir senhora’”.
Depois de ser revistada, a repórter ainda teve chance de assistir, de longe, o fotógrafo Syã Fonseca sendo submetido ao mesmo procedimento.
Somente alguns minutos depois a equipe de Século foi liberada. “Digo libertada porque enquanto estávamos ali não podíamos sair para canto nenhum. Estávamos, para todos os efeitos, detidos”, relata a repórter.
Quem foi liberado ou libertado pode seguir seu caminho. Mesma sorte não teve um rapaz que foi preso após ser “flagrado” com uma garrafa de gasolina. O manifestante conhecido como Jmmy acabou sendo preso. A namorada de Jimmy jurava de pés juntos que a gasolina foi “enxertada” na mochila dele. A informação é de que o rapaz está detido no Centro de Detenção Provisória de Viana.
A reportagem de Século Diário, retomando o trabalho de cobertura, tentou apurar o motivo da prisão. “Abordei o oficial, me apresentei e perguntei quantas pessoas haviam sido detidas e os motivos da prisão. Em vão. Também fiquei sem saber o nome do oficial, que não quis se identificar”: ‘Qual lei que me obriga a dizer meu nome. Temos os vídeos. Por isso as pessoas foram presas’”, disse o policial à repórter em tom presunçoso, típico daqueles que não precisam dar satisfação a ninguém, quanto mais a uma repórter que até minutos atrás estava “pagando geral” .
Sindijornalistas solta nota de repúdio
Sobre o cerceamento à liberdade de imprensa ocorrido ontem.
Mais uma vez a PM de Casagrande agiu com truculência e falta de respeito com a imprensa no protesto de hoje. Mesmo portando identificação, profissionais do Século Diário foram truculentamente abordados, detidos e revistados, sendo tratados como se fossem bandidos. A SESP, mais uma vez, desrespeitou o que nos garantiu em reunião, que todos os policiais estariam sempre identificados. Hoje, o comandante da operação se negou a se identificar quando a imprensa o abordou. “Não existe lei que me obrigue a me identificar”. No entanto, esses mesmos policiais sem identificação, abordaram e obrigaram que manifestantes se identificassem, inclusive tirando foto dos rostos desses. Repúdio total à mais esta ação violenta e desproporcional. O Sindicato dos Jornalistas repudia qualquer tentativa de cerceamento à liberdade de imprensa.