O acidente ocorrido com o trabalhador Wescley de Oliveira na noite dessa quarta-feira (26) desvela uma situação de risco recorrente a que os trabalhadores são submetidos na fábrica da Aracruz Celulose (Fibria). Com o passar dos anos e a mudança de comando, os trabalhadores vêm perdendo direitos, empobrecendo e trabalhando mais. O Sindicato dos Trabalhadores Papeleiros e Químicos do Estado (Sinticel) denuncia sistematicamente a situação atual de trabalho dos operários da fábrica.
De acordo com o diretor da entidade, Joaquim Artur Duarte Branco, os trabalhadores operam máquinas pesadas e desenvolvem múltiplas atividades durante as horas de serviço. Wescley de Oliveira ficou preso da cintura para baixo dentro de um equipamento da correia transportadora de toras para a picagem de madeira. Segundo Artur, esse equipamento é operado por meio de alavancas e as toras de eucaliptos que ficam presas à máquina são cortadas com o auxílio de motosserras.
O diretor da entidade também alerta para o quadro reduzido de trabalhadores em atividade na Aracruz. Os operários que se aposentam não estão sendo substituídos, reduzindo o quadro da fábrica. O sindicalista também alerta para a redução no tempo de descanso. Aqueles que trabalham na escala de seis dias trabalhados para quatro de descanso, por exemplo, e ministram aulas em cursos de formação, fazem o serviço extra durante a folga.
O empobrecimento dos trabalhadores e a perda de direitos também preocupam o Sinticel. Com as mudanças de gestão na empresa, os trabalhadores deixaram de receber o adicional noturno de 50% e o abono de férias de 70%. Além disso, o plano de saúde passou ser pago pelos trabalhadores, bem como os exames. Os procedimentos de custo mais elevados passam por burocracia antes de serem aprovados e os trabalhadores não são avisados do descredenciamento de médicos e clínicas.
Contribui ainda para o processo de empobrecimento dos trabalhadores a extinção do fundo de pensão, chamado de Arus, plano de saúde e seguro de vida integrais, as gratificações por tempo de serviço, o abono de férias de 40% e a aposentadoria vitalícia.
Acidentes
O trabalhador Wescley Oliveiras permanece internado no hospital Metropolitano, na Serra, e passou por mais uma cirurgia nessa quinta-feira (27). Ele teve pernas e bacia esmagadas ao ficar preso no equipamento que operava. O trabalhador esperou por socorro por uma hora e meia preso à máquina.
Com a terceirização da equipe de socorro e salvamento da Aracruz, os atendimentos dessa gravidade têm de ser pelo Corpo de Bombeiros e Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), que ficam na sede do município de Aracruz (norte do Estado), enquanto a fábrica da empresa está localizada na região litorânea do município.
Na madrugada de quarta-feira, 16 horas antes do acidente de Wescley, o operador de empilhadeira Jairo de Oliveira Souza, ligado ao Sindicato Unificado da Orla Portuária (Suport-ES), morreu esmagado por um fardo de celulose que pesava duas toneladas. O acidente ocorreu no Terminal Especializado da Barra do Riacho (Portocel), porto da Aracruz, localizado no distrito de Barra do Riacho, em Aracruz.