Ação do MST em Vitória doou 25 toneladas de alimentos, plantou árvores e lançou nova casa para vendas e ações culturais
Essa quarta-feira amanheceu repleta de alimentos na rua lateral da Catedral Metropolitana de Vitória, no Centro da capital capixaba. Tratou-se da ação Natal Sem Fome da Reforma Agrária, que vem sendo realizada a nível nacional pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que estima no Espírito Santo a doação de cerca de 25 toneladas de alimentos.
“Não é uma ação de caridade. É solidariedade. Solidariedade é doar o que se tem e não o que sobra. Estes são produtos da reforma agrária”, disse ao microfone Mariana Motta, do Assentamento Zumbi dos Palmares, aos beneficiados pelas doações. “É por isso que a gente luta pela terra e organiza acampamentos e assentamentos em todo Espírito Santo e Brasil. Hoje outros estados também estão se somando a esta luta contra a desigualdade”, disse.
Arroz, feijão, farinha, abóbora, aipim, milho, couve, banana, coco, abacaxi e muitos outros alimentos in natura vieram de acampamentos e assentamentos de diversas regiões do Espírito Santo. Foram entregues a cerca de mil famílias cadastradas por igrejas e grupos comunitários, que fizeram fila no sol quente que durou toda manhã capixaba para garantir a alimentação e uma ceia de natal digna.
Um dos coordenadores nacionais do MST, Marco Antonio Carolino, lembrou que no início da pandemia, o movimento decidiu pelo que chamou de “isolamento produtivo”, mantendo ao máximo as restrições sanitárias, ao mesmo tempo em que realizava produção de alimentos para as próprias famílias e fora delas, realizando comercialização e doações em diversas ocasiões durante os últimos anos.
Ele lembrou da figura de Betinho e sua notável campanha Natal Sem Fome, que também serviu ao movimento como uma das inspirações para as ações que ocorrem neste mês de dezembro por todo país, num momento em que a fome aumenta vertiginosamente.
Para o líder do MST, a volta de um panorama de fome que não se via há muito no país não deve ser atribuído à pandemia e sim às políticas adotadas desde o governo Michel Temer e aprofundadas pelo de Jair Bolsonaro, tanto na adoção das políticas econômicas e sociais como no desmonte de políticas públicas antes consolidadas.
O dirigente também apontou que a ação tem um sentido de retribuição que remete à relação entre campo e cidade. “Estamos fazendo isso porque recebemos no passado o gesto de solidariedade de muitas pessoas e organizações nas cidades, principalmente nos acampamentos, nos momentos de maior dificuldade. Hoje as pessoas assentadas em suas terras, produzindo, têm condições de retribuir essa solidariedade que viemos recebendo há mais de 35 anos”, declarou.
Plantio de árvores e novo espaço de comercialização
Em paralelo às doações, um grupo de pessoas do MST e aliados realizou o plantio de cerca de 300 árvores nativas no entorno do Morro da Capixaba, também nas proximidades do Centro de Vitória. A ação faz parte do Plano Nacional Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis, na qual o movimento pretende plantar 100 milhões de árvores num período de dez anos. Algumas mudas ainda foram doadas para famílias que recebiam os alimentos e que tivessem onde plantá-las.
Na noite anterior, terça-feira (21), um outro ato ao lado de onde ocorreram as entregas simbolizou uma aposta importante do movimento para a comercialização de alimentos e fomento ao diálogo entre campo e cidade. Foi feita a entrega das chaves do local onde funcionará o 13º Armazém do Campo do MST no Brasil, o primeiro no Espírito Santo.
“Não foi a inauguração, que vai ser quando o local estiver cheio de produtos, de gente, de nossa ornamentação” disse Daniel Mancio, do setor de produção do MST, durante o ato que reuniu organizações parceiras e aliadas na casa histórica onde funcionou em anos recentes o espaço cultural Casa Verde, local cedido pela proprietária para a instalação do novo empreendimento.
“O Armazém do Campo iniciou como uma loja cinco anos atrás em São Paulo, com o objetivo de fazer uma relação campo-cidade a partir dos alimentos saudáveis. E foi com um gigantesco desafio que a gente foi colocando a proposta em marcha na intenção não só de comercializar, mas também de dialogar a partir dos alimentos, e não só dos alimentos que enchem a barriga, mas também dos que nutrem a alma, disse Daniel.
Segundo ele, o local será inaugurado num “curto espaço de tempo”, inicialmente com a comercialização e, posteriormente, com a implantação de uma cafeteria, biblioteca e outros espaços. A proposta, afirmou, é ser um espaço como em outros lugares do Brasil também para trazer arte e manifestações culturais, além de ser um local para atividades de formação, debates e de construção e articulação política.
“Esse espaços não têm fins econômicos, embora precise ter viabilidade econômica. É para manter essa estrutura funcionando, alimentando o povo da cidade e apoiando o povo do campo na produção de alimentos saudáveis, que muitas vezes não tem para onde escoar o alimento”.