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Vendedores ambulantes reclamam de remoção de bancas em Cachoeiro

Prefeitura não cumpriu compromisso de fornecer estrutura em outro local, segundo os camelôs

A Prefeitura de Cachoeiro de Itapemirim, no sul do Estado, iniciou, nessa quarta-feira (20), a realocação de bancas de vendedores ambulantes que atuam nas ruas dos bairros Guandu e Centro. Entretanto, para os camelôs, trata-se de um processo forçado e que não respeitou o compromisso da administração do prefeito Victor Coelho (PSB) de fornecer estrutura adequada no novo local designado para as suas atividades.

No início da tarde dessa quarta, os ambulantes chegaram a fechar parte da pista na rua Bernardo Horta, no Guandu, em protesto contra a remoção e fechamento forçado de barracas iniciado pela manhã – inclusive com a utilização de agentes da Guarda Civil Municipal. Percebendo que as ações da gestão pública continuavam, independentemente do protesto, decidiram paralisar a manifestação.

Segundo a administração municipal, “a medida se faz necessária para viabilizar a continuidade das obras de macrodrenagem na área central da cidade”, e a “realocação” estava prevista para agosto de 2023, mas foi adiada “sucessivas vezes” a pedido dos trabalhadores, para não atrapalhar nas vendas relativas a datas comemorativas. Ainda segundo a prefeitura, houve nova reunião no início deste ano para tentar chegar a uma data definitiva da mudança, mas não houve consenso.

“De acordo com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo (Semurb), os sucessivos adiamentos da transferência dos trabalhadores ocasionaram atrasos significativos no andamento das obras, especialmente na região do bairro Guandu. Isso torna a mudança imediata imprescindível para garantir o cumprimento dos prazos estabelecidos, evitar maiores prejuízos à conclusão das intervenções e atender aos princípios do interesse público”, argumenta a prefeitura, em nota.

O novo espaço destinado aos ambulantes é a rua Joaquim Vieira, onde está situado o Teatro Municipal Rubem Braga, e já houve um sorteio para determinar o posicionamento da banca de cada um. Entretanto, segundo os vendedores, o acordo era de que eles seriam transferidos quando fossem instaladas as estruturas para um mercado popular no local, o que não ocorreu.

Um vídeo compartilhado pelos ambulantes com Século Diário mostra a secretária municipal das pastas de Obras e Manutenção e Serviços, Lorena Vasques – pré-candidata a prefeita pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB) – apresentando o projeto em 3D do novo mercado em uma reunião. No projeto consta uma estrutura com telhado e bancas divididas. Na entrada mais próxima do teatro, há um letreiro “Mercado Popular Rubem Braga”, e a secretária também fala em adequações para o novo espaço “conversar com o teatro”.

“Falaram que ia ser um espaço com banheiro, iluminação, segurança, e não tem. Querem tirar a gente de qualquer jeito, mas não é assim que funciona. A gente não é animal para jogar de um lado para o outro. Se for para ir para aquele lugar, prefiro ficar aqui, porque pelo menos tem mais movimento”, protesta o vendedor Paulo Roberto Magalhães, que está há mais de seis anos nas ruas do Centro e deverá ser retirado do local que ocupa em breve.

Lucas Schuina

“A mulher da prefeitura chegou ontem e falou: ‘Mas onde vocês ficam agora também não tem banheiro e estrutura’. Aí eu falei: ‘você quer que eu faça xixi na rua?'” relata José Carlos “Filé”, que vende seus produtos há mais de 20 anos na rua Coronel Francisco Braga, entre o Centro e o Guandu. “Quer dizer então que não vai ter mais a estrutura? Prometeram uma coisa e não cumpriram”, lamenta Filé.

Na rua Joaquim Vieira, novo local designado para os ambulantes, apenas um vendedor já estava instalado até o início da tarde desta quinta-feira (21). Rogério Soares Gaspar afirma que decidiu ir para lá porque foi sorteado para ocupar um espaço no início da rua, na banca de número dois, mais bem localizado do que o lugar que atuava anteriormente, na Praça Pedro Cuevas Júnior (Praça do Roberto Carlos).

Sobre o projeto para instalação de uma estrutura adequada na rua, Rogério elogiou, mas colocou ressalvas na proposta. “O projeto, no papel, é muito bom. Mas já estão colocando as pessoas aqui, então não sei se vão concluir”, opinou.

Obstáculos à macrodrenagem

Não é a primeira vez que a Prefeitura de Cachoeiro sentiu necessidade de tirar vendedores ambulantes de lugar por conta das obras de macrodrenagem na região central da cidade. O Shopping Popular, tradicional centro de comercialização, com mais de 28 anos, foi demolido no primeiro semestre de 2023, sob o argumento de que galerias da macrodrenagem passariam por baixo do espaço.

Os ambulantes foram realocados para o Mercado da Pedra, também localizado no bairro Guandu, mas há reclamações constantes quanto à perda de clientes no novo espaço, muito por conta dos transtornos causados pelas obras de macrodrenagem.

Lucas Schuina

Atualmente, a Prefeitura de Cachoeiro tem como obstáculos à macrodrenagem dois postos de gasolina que ficam no meio do caminho. Um deles é o Posto Oásis, localizado em frente ao antigo Shopping Popular, que ocupa o espaço onde antes ficava uma praça pública. O outro é o Posto Nogueira, que fica há alguns metros dali, e cuja localização na rua Visconde de Matozinhos representa um perigo, tendo em vista o baixo grau de segurança dos tanques de combustível. Processos para a demolição dos estabelecimentos se arrastam na Justiça há décadas.

As obras de macrodrenagem são realizadas com um investimento de R$ 55, 2 milhões da gestão do governador Renato Casagrande (PSB), principal aliado de Victor Coelho, e estão bastante adiantadas, mas as reclamações sobre os transtornos causados pelas intervenções são constantes.

‘Reordenamento urbano’

Além da macrodrenagem, a nota da Prefeitura de Cachoeiro aponta outro motivo para a realocação dos camelôs: “A Semurb destaca que a medida visa promover o reordenamento urbano da região central da cidade, ao disponibilizar um espaço específico para a realização das atividades dos vendedores ambulantes. Com isso, busca-se, também, melhorar as condições de mobilidade nos passeios públicos das áreas comerciais, que apresentam grande fluxo diário de pessoas”.

A nota apresenta ainda uma fala do secretário municipal de Meio Ambiente e Urbanismo, Victor Galvão Rabbi: “Todo o processo foi conduzido em estreita colaboração com os vendedores ambulantes do Centro de Cachoeiro. Após diversos adiamentos, realizados a pedido dos próprios trabalhadores, torna-se imperativa a realocação imediata devido aos atrasos nas obras de macrodrenagem, que incluem a revitalização do passeio público em alguns pontos desta região. Os vendedores foram notificados, e o prazo para a mudança se encerrou nesta quarta-feira, 20 de março”.

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