Como uma gestão que fala em revitalização do Centro de Vitória patrocina medidas como o Termo de Compromisso Ambiental (TCA) que impõe um autêntico toque de recolher aos moradores? Essa vexatória contradição da gestão Luciano Rezende (PPS) foi exposta pelo vereador Roberto Martins (PTB) em discurso na sessão dessa terça-feira (14) na Câmara de Vitória.
O vereador apontou problemas sérios no TCA, assinado apenas entre Prefeitura de Vitória e Ministério Público Estadual (MPES), que impõe a bares e restaurantes das ruas Sete de Setembro e Gama Rosa o recolhimento de mesas e cadeiras após as 23h, com a justificativa de aplacar a poluição sonora. Moradores e donos de estabelecimentos foram excluídos da discussão e não assinaram o documento.
“Na campanha, o prefeito reeleito bateu muito na tecla da revitalização do Centro de Vitória. Mas tenho acompanhado alguns acontecimentos no Centro e dialogado com munícipes locais e percebo que as ações infelizmente estão na contramão desse discurso de revitalização”, criticou.
O vereador exemplificou a contradição, primeiro, denunciado o “abandono em que se encontra a Vila Rubim”. A peixaria, destacou, sofre com infiltrações, deteriorando-se em inadequado local de trabalho.
Em seguida, passou ao TCA. “A tão movimentada e valorizada culturalmente Rua Sete está correndo um sério risco de desvalorização e esvaziamento”, disse, sublinhando que, segundo informou-lhe a Associação de Moradores do Centro de Vitória (Amacentro), o TCA não foi discutido nem com a comunidade. “Tenho receio que esse tipo de atitude traga vários prejuízos. A começar pela insegurança. Os jovens que chegam das escolas e faculdades no horário das 23h já irão encontrar as ruas esvaziadas. Um cenário ideal para a criminalidade”.
O vereador destacou também o desemprego que a medida pode causar, especialmente no contexto de crise que atinge a economia brasileira. Aos jornais, donos de bares já indicam que podem demitir funcionários do turno noturno.
“Na prática, vejo o contrário de revitalização, vejo o esvaziamento do Centro de Vitória. Peço que se discuta com seriedade que proposta é essa que queremos para o Centro, tentando encontrar um equilíbrio entre os vários interesses”, finalizou.
No mandato passado, uma certa revitalização do Centro de Vitória foi celebrada em inúmeras ocasiões tanto pelo prefeito Luciano Rezende quanto pela secretária de Desenvolvimento da Cidade, Lenise Loureiro. Ambos assinaram o TCA com o Ministério Público.
O presidente da Casa e aliado do prefeito, Vinicius Simões (PPS), sucedeu Martins na tribuna e tentou abrandar as críticas. Vereador com reduto eleitoral no Centro de Vitória, Simões foi atingido em cheio pela medida que, se agrada a uma parcela de moradores, desagrada a outra significativa parcela, uma vez que põe em risco o mais exuberante movimento cultural da cidade, que têm na música o principal pilar.
Ali, no entanto, não conseguiu rebater as críticas do petebista. Simões destacou exatamente o aspecto cultural do Centro como o propulsor da valorização da região nos últimos anos.
E disse estar buscando o diálogo. Não é o que parece. “No mandato passado, por duas vezes, com o apoio da associação de moradores, reuni prefeitura, síndicos e donos de bares para chegar naquilo que a gente mais quer: equilíbrio. Eu, como morador da região, tenho buscado o diálogo e o equilíbrio para que a economia local não seja prejudicada, assim como o sossego dos moradores”.