Responsável pela conferência de abertura do I Seminário Chuvas no Espírito Santo: compreensão, prevenção e enfrentamento, que começou na noite dessa terça-feira (13) no plenário da Assembleia Legislativa, em Vitória, o professor carioca Paulo Canedo escolheu Vila Velha como norte de sua palestra. A partir daí, apresentou um didático e elucidativo estudo de caso para o tema do debate – A Importância das Políticas Públicas de Redução de Risco.
O seminário acontece até quinta-feira (15), agora com encontros na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). O evento é uma parceria entre a Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e a Assembleia Legislativa. O objetivo é discutir propostas que minimizem os estragos causados pela chuva no Estado.
Antes de Canedo, vieram as falas protocolares. O deputado estadual proponente do evento, Roberto Carlos (PT), disse que a ideia é que o seminário aconteça anualmente, servindo como auxílio à capacidade de resposta dos poderes municipais e estaduais aos desastres.
Inúmeras autoridades compuseram a mesa, entre representantes do governo estadual, prefeituras, autarquias, Corpo de Bombeiros e Ufes. A sociedade civil ocupava o restante do plenário Dirceu Cardoso.
Professor do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ), Canedo disse que estudou particularmente o caso de Vila Velha, que, a cada chuva mais violenta, sofre com alagamentos, com seus alunos de mestrado e doutorado.
Ele comparou o município canela-verde com a Baixada Fluminense: ambas são regiões de topografia plana, apresentando, em consequência, dificuldade para o direcionamento do fluxo das águas excedentes. “O grande sonho dos engenheiros é pegar o excedente e jogar direto no mar”, disse ele, ressaltando a seguir que regiões planas dificultam a concretização desse sonho.
Articulando-se à planura topográfica, o que, para fins de escoamento, força a inundação de outra área -“Para escoar uma região plana é preciso inundar” – Vila Velha tem pelo menos mais um respeitável complicador: está cercada pelo mar. Aqui, a elevação da maré segura as águas dos rios, intrincando ainda mais o processo de escoamento.
“Se alguém quer um problema complicado, que analise as enchentes de Vila Velha”, disse a certa altura.
Para ele as soluções devem vir de forma multifacetada, já que as enchentes, afora os complicadores naturais das regiões – como Vila Velha ou a Baixada Fluminense – também são efeitos do uso irregular do solo, problema que Vila Velha conhece muito bem.
Quando o microfone abriu para a intervenção do plenário, a representante do Fórum Popular em Defesa de Vila Velha (FPDVV), Irene Léia Bossois, levantou uma questão interessante.
Momentos antes, um vídeo fora exibido, apresentando um projeto para minimização das enchentes em Vila Velha. Ali, duas áreas, identificadas como Parque 1 (mais ou menos na região do viaduto da Rodosol) e Parque 2 (mais para dentro do continente, ao lado da Rodovia Darly Santos), são destacadas para receber as águas excedentes das inundações.
No entanto Irene, sublinhando todo o imbróglio envolvendo o Plano Diretor Municipal (PDM) de Vila Velha, lembrou ao plenário que tais parque estavam em processo de ocupação avançada ou, ainda, com loteamentos aprovados. Como direcionar águas para tais áreas?
Canedo voltou à Baixada Fluminense, em que surgiu problema semelhante. Segundo ele, entre as soluções apontadas, a que lhe pareceu mais razoável foi a transformação da área problemática em uma Área de Proteção Ambiental (APA). “Mas não é um corta e cola”, alertou. Segundo ele, a criação de uma APA possibilitaria o controle do zoneamento, ou seja, uma ocupação mais ordenada.
Aí ele citou em tom de alerta um exemplo canela-verde de uso irregular do solo: o bairro Pontal das Garças. “Está construído em uma rota errada. Os moradores ali estão sujeitos a inundações frequentes”, proferiu.
Canedo também destacou a importância dos planos diretores: estes devem servir para melhorar a capacidade de decisão das autoridades e também devem representar a sociedade organizada local, no sentido de mostrar aos representantes públicos o que se quer que seja feito.