Quando o primeiro censo imobiliário do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Espírito Santo (Sinduscon) foi publicado, em março de 2003, a quantidade de unidades em construção da região de Itaparica, em Vila Velha, nem era computada sozinha. O censo reunia também a Praia da Costa e Itapuã. O número total somava 3.796 unidades em construção. Mais de 10 anos depois, a região, sozinha, registra 7.247.
O dado está no mais recente censo imobiliário do Sinduscon, divulgado essa semana, e confirma de uma vez por todas a explosão imobiliária da região canela-verde. Há exatos 10 anos, no censo de novembro de 2004, o levantamento isolou a Praia da Costa e abrangeu Itaparica e Itapuã. Foram apontadas 2.869 unidades em construção. Itaparica só apareceria de forma autônoma a partir das pesquisas do ano seguinte.
No censo de outubro de 2005, Itaparica tinha 2.405 unidades em construção. Ou seja, de lá para cá, esse número mais que triplicou. Não à toa Vila Velha é a cidade da Grande Vitória que mais apresenta prédios em construção, residenciais, comerciais ou mistos. São 15.431, dos quais cerca de metade, 7.247 unidades, brota do chão de Itaparica, a maior parte de dois ou três quartos.
A pergunta se faz indispensável: com dois grandiosos shoppings separados um do outro por poucos quilômetros, que impacto tem, ou mesmo se verifica, essa vertigem imobiliária sobre a mobilidade urbana da região? Esse crescimento imobiliário impôs à região uma profunda reconfiguração física em pouco mais de uma década.
Temos, ali, uma área de vias estreias, sendo apenas três as de escoamento que ligam o norte ao sul do município: a Rodovia do Sol e as Avenidas Francelina Setúbal e José Júlio de Souza.
Coloque-se um carro para cada uma das 7.247 unidades, já que, como Vila Velha cresceu nos últimos vinte anos mais à mercê dos caprichos do poder imobiliário que pelo planejamento do poder público, poucos se fiarão no transporte coletivo. São mais sete mil carro para engrossar a frota veicular do município, hoje em cerca de 200 mil veículos, segundo o Departamento Nacional de Trânsito (Denatran).
A Praia da Costa é o exemplo perfeito de que prédio de luxo e qualidade de vida não são sinônimos quando o crescimento imobiliário é desordenado. A semana inteira há trânsito para sair e entrar no bairro. Primeiro deu-se toda a liberdade para as empresas imobiliárias construírem onde quiserem. Até hoje não se pensou em planejamento urbanístico.
Uma região que revê seu próprio crescimento é Jardim Camburi, em Vitória, o que mais tem imóveis em construção na capital, com 1.722 unidades do total de 3.389. É o bairro que mais cresce na capital e já sente os impactos na circulação viária. Os moradores, como já destacamos em outras oportunidades, querem limitar o tamanho dos prédios.