O caso da menina estuprada em São Mateus demonstra a irracionalidade que o País atravessa
Na ponta de todo esse movimento, emissários da chamada pastora Damares Alves, ministra da Mulher, Família e dos Direitos Humanos, a extremista bolsonarista Sara Giromini, a Sara Winter, outros agentes públicos, entre policiais e profissionais da área de saúde, padres, pastores e religiosos tresloucados, hipnotizados pelo viés ideológico da extrema-direita, autoritária e desumana. Todos envolvidos na guerra santa, que explodiu em maior dimensão, mais uma vez, na marcha iniciada desde a reeleição de Dilma Rousseff.
O caso serviu para demonstrar a irracionalidade que o País atravessa e coloca no centro da questão, além da ministra e do grupo que acompanhou os desastrosos procedimentos adotados, o Hospital Universitário Cassiano Antonio Moraes (Hucam), o conhecido Hospital de Clínicas, que se recusou a fazer a intervenção cirúrgica autorizada pela Justiça para interromper a gravidez, alegando falta de preparo técnico, o que exigiu que a vítima fosse para Pernambuco.
“É uma hipocrisia violenta”, desabafa a doutora em Bioética e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Bioética, Elda Bussinger, ao destacar que a unidade hospitalar, mesmo sendo referência na área, se negou a atender à emergência. A especialista aponta ainda a omissão da equipe do Programa de Atendimento às Mulheres Vítimas de Violência Sexual (Pavivis), programa nacional que, no Espírito Santo, é executado no Hucam desde 1998.
A postura dos responsáveis pelo Hucam e de igual modo a de todos os envolvidos na barbárie que caracterizou o caso da menina de São Mateus, não pode, simplesmente, cair no esquecimento ou ficar rolando nos canais burocráticos.
Nesta sexta-feira (21), o Fórum de Mulheres do Espírito Santo (Fomes) e a Frente pela Liberação do Aborto do Espírito Santo (Flaes) realizou protesto em frente à unidade para cobrar explicações e reivindicar estrutura digna de atendimento para abortamento legal, em Vitória, às mulheres, meninas, homens trans e pessoas não binárias.
Usando o nome de Deus e escudando-se por trás do fanatismo religioso com pesada carga ideológica, resultante de mecanismos cognitivos impostos à sociedade, os algozes da menina levam adiante distorções de ensinamentos seculares, que provocam conflitos com legislações vigentes em defesa da valorização da vida. Esse caso de barbárie, pela sua repercussão e considerando o elevado número de crianças abusadas no Espírito Santo e no País, merece um tratamento sério, que não cabe nenhuma impunidade.