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A barbárie entre nós

Como se não bastassem os altos índices de violência, resultantes de causas das mais diversas, mas sempre relacionados a desigualdades sociais, assistimos – e já se tornam corriqueiros -, atos de pura barbárie cometidos por indivíduos encarregados de zelar pela paz e o bem-estar da sociedade. Nesse cenário de temor, o capitão presidente segue à frente protagonizando o espetáculo de contínua degradação do País, tornando natural práticas inaceitáveis ao convívio social.   

A ligação do capitão presidente e seus familiares com milicianos, as investigações em torno do assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, os ataques ferinos e furiosos a adversários políticos e a jornalistas e as relações espúrias com o ex-juiz Sergio Moro, atual ministro da Justiça, exibem alguns dos vários traços marcantes da engrenagem de terror atual, de bandidos e falsos heróis. 

Trazem para a realidade do dia a dia a “arminha” símbolo da campanha que o elegeu e colocam a descoberto índoles criminosas, muitas delas acobertadas por falsa religiosidade de lideranças de igrejas e outras “pessoas de bem” defensoras da meritocracia, hipócrita e desigual. 

Esquecendo o dar a outra face, como fez o Cristo, pregam o “dente por dente, olho por olho” do Código Hamurabi, também citado no Antigo Testamento bíblico, há milênios sepultado. Desse modo, não só enveredam no antigo caminho da barbárie, mas, com maior gravidade, espalham o medo e estimulam as mesmas práticas. 

Na sessão ordinária da Assembleia Legislativa de terça-feira (11), milhares de pessoas assistiram a um espetáculo deprimente protagonizado pelo deputado Capitão Assunção (PSL), oficial da Polícia Militar e aliado de primeira hora do capitão presidente. 

Demonstrando falta de controle emocional e ignorando as normas de decoro parlamentar, xingou o secretário de Segurança, Roberto Sá, de “desgraçado”, mandou-o “aos quintos dos infernos”, ofendeu entidades e movimentos em defesa dos direitos humanos e jornalistas e pediu a morte do assassino de uma garotinha de três anos.

E ainda relembrou pronunciamento que fez em setembro de 2019. Na ocasião, ele ofereceu R$ 10 mil a quem matasse o assassino de uma jovem, ocorrido em Cariacica, que provocou abertura de um processo por quebra de decoro parlamentar na Corregedoria Geral da Assembleia. Cinco meses depois, o processo permanece parado, da mesma forma que as ofensas e chamamento à violência repetido mais uma vez. 

Exceção à fala do líder do governo, deputado Eustáquio de Freitas (PSB), em defesa do secretário, na terça-feira o plenário calou-se. Entre os demais, nenhuma reação, pois afinal quem ousaria propor a tomada de providências diante de tamanha fúria? Até mesmo porque, um eventual processo teria como destino a gaveta, como acontece com a apuração da quebra de decoro para apurar a oferta de recompensa de R$ 10 mil a quem cometesse um crime de morte. Nesse caso, fala mais alto o corporativismo entre os colegas deputados. 

A indignação pela morte da jovem em Cariacica, em setembro, e da garotinha, neste mês, causa indignação a todos, que clamam por justiça e punição dos criminosos. No entanto, desconhecer as leis vigentes no País e afrontá-las com estímulos a mais violência é tornar o ar irrespirável e penetrar em cenários sombrios da criminalidade. Matar por matar, fora de um confronto, é caminho sem volta. 

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