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A corda esticada

Na época do milagre econômico brasileiro, na primeira metade dos anos 1970, era comum ouvir dizer que a violência social, expressa em assassinatos, roubos e assaltos a mão armada, somente seria reduzida quando o governo atacasse sua provável e suposta causa original – a desigualdade de renda entre pessoas e regiões.

 
 
Pois bem, há pelo menos dez anos o governo federal realiza um enorme programa de transferência de renda, via Bolsa Família, para as camadas mais pobres da população – e os índices de violência não baixam. Pelo contrário, aumentam, como bem sabem os habitantes da Grande Vitória. Por que? 
 
 
Os cientistas sociais não têm explicações para o fenômeno da manutenção da violência na sociedade brasileira, mas há nos índices um ponto assustador: cresce sem parar o  número de jovens mortos por meio de assassinatos simples, executados por vingança, envolvendo quadrilhas ligadas ao tráfico de drogas.
 
 
O que mais chama a atenção é que tais assassinatos de jovens parecem desconectados da da realidade cotidiana expressa pelas atividades econômicas em geral. É como se os praticantes e as vítimas desses crimes, muito deles executados “em passant”, a bordo de motos, não participassem da vida estudantil nem tampouco dos eventos religiosos que proliferam nos templos das avenidas das capitais e nas ruelas das vilas.
 
 
Parecem todos marginais da mais extrema extração. Um novo tipo de marginal. Não os marginais-vagabundos de outrora que viviam jogando sinuca nos botecos. Agora são uma espécie de marginais que se profissionalizaram desde cedo no exercício de um jogo de vida e morte, algo absolutamente sem ligação com a sociedade formal, representada pela família, a escola, a igreja, o clube etc. Tudo culpa das drogas, do crack?
 
 
Se não há explicações, pode-se formular hipóteses, ainda dentro de uma interpretação social semelhante à dos 1970. A mais pertinente, aparentemente, é que a distância entre os extremos da desigualdade de renda não diminuiu no Brasil. Os programas como o Bolsa Família mal agitaram o fundo do baú das rendas, enquanto permanece intocada a legislação que regula o imposto de renda no Brasil. Tampouco foram mexidas as normas da tributação sobre a propriedade.
 
 
Na realidade, estamos longe de mudanças substantivas. No momento, o governo se esforça para dar uma satisfação aos que reclamam a desoneração disso e daquilo, a começar pela retirada de taxas e tributos que pesam sobre o fator trabalho. Como sempre, a corda tende a rebentar do lado mais fraco.  
 
 
LEMBRETE DE OCASIÃO
 
 
“Se la cosa no se remedia, ‘l diaolo fà comedia”
 
(Se a coisa não se remedia, o diabo faz comédia)

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