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​A Covid e o voto

Levados pela euforia de conseguir o voto, vários candidatos passam por cima de regras estabelecidas

O que dizer do desrespeito cometido por candidatos e ocupantes de cargos no executivo e legislativo contra as recomendações das autoridades sanitárias relacionadas à Covid-19? Observa-se, no Espírito Santo, uma repetição de prática costumeira do presidente Jair Bolsonaro, que poderá resultar em denúncias contra ele por prevaricação ou crime de responsabilidade, considerado que, por conta desse comportamento, há fatos geradores do aumento do avanço do coronavírus. 

A menos de duas semanas da votação que elegerá prefeitos e vereadores, a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) reforçou decreto do governador Renato Casagrande junto ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE-ES) e formalizou pedido para proibir comícios e outros tipos de aglomeração. O objetivo é conter o aumento da doença depois da constatação de “comportamentos inadequados” de políticos, que participam de eventos sem levar em conta o distanciamento recomendado e o uso de máscara.

Para agravar a situação, fotos e vídeos são divulgados em redes sociais e outros meios, e inclusive encaminhados à imprensa, em que candidatos e seus apoiadores aparecem sem a proteção recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), cientistas e a Secretaria de Estado da Saúde. Em consequência, há candidatos e apoiadores infectados e afastados de suas campanhas eleitorais. O prefeito Luciano Rezende e seu candidato, Fabrício Gandini (Cidadania), além do vice da coligação Natan Medeiros (PSL), em Vitória; Max Filho (PSDB) e Neucimar Fraga (PSD) e seu vice Ricardo Chiabai (Cidadania), em Vila Velha; Sandro Locutor (Pros), que deixou o hospital em Cariacica após dez dias de internação, e o deputado federal Felipe Rigoni (PSB) são os exemplos mais recentes.

Fica junto ao público, além do mau exemplo que certamente estimula a desobediência, a ameaça de contrair a enfermidade e propagá-la na sociedade, já tão afetada pelo descaso do governo federal no combate à pandemia. Esse comportamento entra na contabilidade do alarmante número de pessoas infectadas no país e também no Estado, que teve a posição no ranking dos mortos alterada.

Levados pela euforia de conseguir o voto, vários candidatos passam por cima de regras estabelecidas para barrar o avanço da doença e seguem as determinações do marketing político, pois o objetivo está voltado, exclusivamente, para chegar ao poder. A partir de comportamento enviesado, como os desse tipo, pode ser questionada a veracidade do discurso proferido por esses candidatos, muitos deles acometido da Covid-19, e base de suas campanhas eleitorais, depois de devidamente empacotado pelos marqueteiros. Pode-se, afinal de contas, confiar nas promessas?

Existem regras que precisam ser estimuladas, a fim de gerar benefícios a toda a sociedade. Promover aglomerações e deixar de usar máscaras em locais públicos não é apenas um comportamento inadequado, é imoral e criminoso, e deveria merecer um tratamento como à altura da dimensão do mal que é gerado no coletivo.

Espera-se, a menos de duas semanas da eleição, que as normas sejam consideradas, como, é bom lembrar, já se comprometeram alguns concorrentes a prefeituras e câmaras de vereadores em mensagens postadas nas redes, embora isso só tenha ocorrido depois do pedido da Secretaria de Saúde de proibir os comícios. Antes, era o tudo ou nada em busca dos votos, muito mais importantes do que o ataque da Covid-19.

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