No momento em que se vê cada dia mais isolado e alvo de críticas das mais contundentes pipocando na imprensa que ajudou a elegê-lo e em outros setores da sociedade, incluindo as escolas de samba, o capitão-presidente revela a verdadeira face e, na falta de um projeto para o País, articula um movimento para si próprio e contra o Congresso Nacional, a instituição mais representativa da democracia ou, em se tratando do Brasil, o que ainda resta dela. Ele prepara um golpe.
Ao divulgar vídeos nas redes sociais conclamando o povo a participar de uma concentração no dia 15 de março em defesa do seu governo, caracterizando o Congresso como inimigo, Jair Bolsonaro, seus filhos e a reduzida equipe de auxiliares e bajuladores apostam no autoritarismo extremo. E o fazem de maneira a reforçar o discurso que ainda consegue enganar parte da sociedade brasileira, submersa no encantamento, e por isso enganoso, de que pretende o melhor para o País.
Convence a muitos, desde os que o elegeram por carregar dentro de si o vírus do fascismo explícito, até aqueles que perderam a própria consciência e desconhecem, ou por omissão adotam esse comportamento, a destruição do Estado brasileiro por uma gestão completamente alheia aos anseios sociais e pátrios, subjugados ao capital financeiro.
É para esse público que o capitão-presidente se dirige, na certeza de que será aplaudido ao bater continência à bandeira dos Estados Unidos e aceitar a sobretaxa imposta por Trump aos nossos produtos, a prisão e deportação de brasileiros de forma desumana, a intromissão em nossos assuntos internos, enfim, a vassalagem generalizada.
“Trump é autoridade, como maior potência mundial”, me disse um eleitor do capitão-presidente, na maior cara de pau. Aconteceu em um encontro casual enquanto aguardava um café. Ele despeja elogios da mesma forma que desconversa quando se toca no relacionamento da família presidencial com milicianos, em especial o Fabrício Queiróz, que até hoje, passado mais de um ano, ainda não apareceu para explicar os “negócios” lucrativos que toca.
Outro, ao lado, afirma que “a corrupção acabou” e ressalta, com entusiasmo, que no Brasil as coisas “já estão bem diferentes, mesmo com a “perseguição da imprensa”. “O cara é trabalhador e sabe botar as coisas pra frente”, arremata. Diante da provocação de que o evento do dia 15 de março é uma afronta à democracia, sobe o tom e quase esbravejando cita como exemplos a disciplina e os bons modos ensinados nos quartéis e defende a implantação no País das escolas militares.
Desemprego, cortes de verbas em áreas essenciais, violência, redução ou extinção de programas sociais, fome, destruição ambiental, supressão de direitos dos trabalhadores, precarização da imagem do Brasil no cenário internacional, despreparo do capitão e de sua equipe para os cargos que ocupam.
Esses e outros assuntos fundamentais para a vida nacional não passam pela mente desse público. Para seus integrantes a mente deve estar mais voltada para o fantasma da ideologia de gênero, o comunismo, a mamadeira de piroca, a defesa da família e os bons costumes e o questionamento sobre Lula ter saído da prisão, onde foi jogado injustamente, sem provas.
E assim seguem, ignorando Aécio Neves ainda solto, o elevado preço dos combustíveis, o crescimento das milícias. Acolhem o fuzil, geralmente cuspindo fogo contra pretos e pobres, desconhecem o compartilhamento social, como cantou o sambista, revelando a face sombria e cheia de malignidade que está sobre o Brasil, porque “não existe futuro sem partilha, nem Messias de arma na mão …”.
A face revelada em direção ao Congresso Nacional é sombria e traz à memória dias de extrema crueldade e crimes ainda não punidos.