Quinta, 09 Mai 2024

A flor do Natal

As luzinhas coloridas já piscam piscam nas portas e janelas, os bonecos inflados sorriem desejando um feliz Natal vermelho cintilante como as poinsétias, ou um Hanukah azul da cor do céu. As festas católicas e judaicas se misturam e ninguém reclama - Paz na terra aos homens de boa vontade. As mulheres não foram incluídas nessa mensagem de tolerância recíproca e a boa vontade não está evitando os conflitos que nos assolam e entristecem.

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Mesmo assim, o mundo continua rodando, o sol teimosamente aparecendo e desaparecendo do nosso céu todos os dias. E o amor, essa pérola rara, continua inundando os corações humanos, gregos e troianos dando-se as mãos - a história humana está repleta de contradições. Católicos e muçulmanos, crentes e ateus, judeus e budistas se encontram em uma festa, ou no metrô, ou numa esquina, e de repente faz-se a luz - com uma flechada apenas, o Cupido os une para sempre.

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Antigamente os romances aconteciam entre vizinhos da mesma rua, ou colegas da mesma escola. Hoje o amor globalizou, raças e credos se misturam e havendo boa vontade, dá tudo certo. Minha vizinha Maria se casou com Abdul e se divorciaram 10 anos depois. Mas não se pode dizer que o relacionamento não deu certo, porque tiveram duas filhas, Ilza e Ilda. Ilza ficou no Brasil com a mãe, Ilda foi com o pai para as terras de Aladim. Maria deu sorte, porque muitas vezes em tais situações, o pai leva todos os filhos.

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Mais dez anos transcorrem - dez natais, dez voltas do sol em torno da terra - Ilza, a brasileira, se casou com Rashm e foi morar nas arábias, enquanto Ilda, a muçulmana, se casou com José Lino, e foi morar em São Paulo. Todos felizes até que a morte os separe? Nunca se sabe, e muitas vezes nem a morte os separa – há muitas histórias de casais que morreram juntos. Amor para a eternidade.

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Nesse Natal, nossa paz na Terra não está encontrando muitos homens de boa vontade entre os que dirigem nossos destinos. Duas guerras ameaçam a humanidade, e uma outra talvez exploda bem nas nossas portas. Por estranho que pareça, todo mundo é bom e quer o bem da humanidade, mas basta subir as escadinhas do poder e tudo muda - achar os honestos é tão difícil quanto achar aquela agulha que se perdeu no palheiro. Ou fazer o camelo passar pelo fundo da agulha.

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Mas Natal é Natal - tocam sinos, cantam hinos, as lojas estão lotadas e os caminhões da Amazon rodam dia e noite. Cheguei em casa quando já passava da meia-noite e não tinha nada na minha porta além do vaso de vibrantes poinsátias - a flor do natal. Acordo às seis e - Aleluia - lá estavam dois pacotes me aguardando. Como um Papai Noel moderno, a Amazon passa durante a noite distribuindo presentes. Os trenós de cor cinza exibem a mensagem: Cuidado, o conteúdo corre o risco de distribuir felicidade! Ou algo parecido.

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Todos os anos Ilda e Ilza passam o Natal juntas, com os pais, os maridos e os filhos. A mesa da ceia é variada, deve agradar a gregos e troianos. Os presentes vêm de várias partes do mundo: Papai Noel globalizou, e se distribuiu alegrias por todo o planeta, seus brinquedos também são fabricados nos quatro cantos do mundo e não respeitam fronteiras. Como o Netflix. É o que sempre digo, o mundo globalizou, mas as guerras continuam.

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