Está em páginas da edição de fevereiro da revista mensal Pesquisa Fapesp um artigo em que o jornalista Ricardo Zorzetto afirma que os Tupiniquim não foram extintos, como se pensou durante quase um século.
Espalhados por três áreas de 18 mil hectares no município de Aracruz, os Tupiniquim compõem atualmente uma população de 2500 indivíduos com 51% da genética nativa americana, um índice superado pelos Guarani-Mbyá (73%), que chegaram ao Espírito Santo na década de 1960, originários do Rio Grande do Sul.
Era Tupiniquim a tribo que recepcionou na costa da Bahia os navegadores portugueses em 1500, época em que os membros dessa etnia somavam 90 mil, ou 10% da população indígena (900 mil) fixa no litoral. Nesse tempo, a soma total dos indígenas brasileiros chegava a 3 milhões, segundo estimativas do IBGE.
Agora, com base em estudos genéticos, cientistas brasileiros concluíram que os Tupiniquim descendem dos tupis que há 1200 anos migraram da sudoeste da Amazônia para o litoral do leste do Brasil.
Além dos Tupiniquim, apenas os Tupinambá da Bahia e os Potiguara, da Paraíba, descenderiam dos Tupi que habitavam o litoral na época da chegada dos portugueses. Os Guarani também eram originários da Amazônia, mas migraram originalmente para o Sul, agregando-se às missões organizadas pelos jesuítas.
Por causa da intensa miscigenação ou do próprio extermínio a que foram submetidos os indígenas, foi extremamente drástica a queda da população Tupiniquim, reduzida em 1876 a apenas 55 indivíduos que perderam até seu idioma. Seu processo de degradação étnica foi tão grande que a palavra “tupiniquim” passou a ser usada como um adjetivo desqualificatório entre muitos brasileiros cultos.
Na realidade, é quase um milagre que os poucos descendentes dos Tupiniquim, considerados acaboclados e só falando o português, mantenham em 51% sua ancestralidade nativa americana. Na média da população brasileira, a incidência de sangue indígena é de apenas 7%.
Um dos responsáveis por essas descobertas é o médico José Geraldo Mill, da Ufes, que contou com a colaboração do médico Alexandre da Costa Pereira, do InCor-USP, e do geneticista Francisco Salzano, da UFRGS, que faleceu em 2018 aos 90 anos. Diversos outros cientistas brasileiros estão estudando os povos indígenas.
LEMBRETE DE OCASIÃO
“Os Tupiniquim e os Guarani-Mbyá (falantes de uma língua tupi) compartilham ancestrais comuns, que teriam vivido há cerca de 3 mil anos na Amazônia”.
Ricardo Zorzetto, in Revista Fapesp, página 58, fevereiro de 2020.