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A Metamorfose

Depois de uma noite insone e mal dormida, nesse três de julho, o mundo comemora o nascimento de Franz Kafka,  o homem que deu à barata o status de personagem literário. Seu conto mais famoso, Metamorfose, é um conflito familiar resultante da dependência financeira dos pais,  é considerado uma referência à vida tumultuada do autor polonês, com pai intolerante e mãe frágil.
 
Advogado, Kafka reclamava que as batalhas em defesa da lei lhe tomavam muito tempo, e o impediam de   escrever.  Fazia parte de um exclusivo círculo literário em Praga, que incluía seu amigo Max Brod, que, desobedeceu às ordens que ele deixou para queimar todos os seus trabalhos, e os publicou após sua morte. Tal como Van Gogh, Kafka só ficou famoso depois de morto, o que deve consolar muitos artistas  frustrados – quem sabe depois, talvez…
 
Entre esses trabalhos estão os romances O Castelo (1924) e O Julgamento. Kafka foi precursor do existencialismo, influenciando filósofos do nível Sartre e Camus. Seas trabalhos são traduzidas e publicadas no mundo todo, adaptadas para filmes e teatro, até música. Ele é considerado um dos maiores escritores do século passado.
 
A Metamorfose, publicado em 1915, é ainda hoje estudado em colégios e faculdades e citado em antologias. A transformação sofrida por Gregor Samsa é muito discutida pelos críticos e estudiosos de sua literatura. Kafka não revelou no texto, e nunca deu qualquer explicação sobre o motivo dessa transformação, que pode refletir sua própria insatisfação com a família e o trabalho, ou com sua própria pessoa.
 
Outro ponto de debate é o inseto em que Gregor se transformou. Os tradutores nunca chegaram a um consenso sobre o tipo de inseto de que fala o livro. Na versão que li em português, era uma barata. Na verdade, Kafka nunca definiu o tipo do inseto. Em carta ao seu editor, em outubro de 1915, discutindo a ilustração da capa, ele escreveu, “O inseto propriamente dito não deve ser desenhado. Ele não deve nem ser visto à distância”.
 
Nas tantas edições posteriores, a vontade do autor também não foi respeitada. Kafka diz apenas inseto horrível, mas a também horrível expressão barata, ou inseto do lixo, é usada quase no final da história pela faxineira, a única com senso prático para resolver o problema. A palavra alemã para inseto também significa senso de separação – uma referência ao autor e o ambiente em que viveu – ele não é “limpo” e precisa ser isolado.
 
Vladimir Nabokov, que além de autor era estudioso de insetos, insiste que Gregor não era uma barata, mas apenas um grande besouro. Bem menos asqueroso, na verdade, indicando que talvez Kafka não fosse uma pessoa tão infeliz deduzem seus biógrafos. Sobre sua vida pessoal, ele foi noivo mas não se casou, e era assíduo frequentador de bordéis. Kafka morreu de tuberculose, aos 40 anos, que contraiu durante a Primeira Guerra Mundial. Morreu de desnutrição um dos maiores autores do século XX.

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